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Contra geosmina, Cedae lançou argila com metal na água do Guandu

Companhia utilizou composto chamado Phoslock, uma espécie de argila modificada que contém lantânio

Paulo Moura - 07/04/2021 10h41 | atualizado em 13/04/2021 16h16

Estação de Tratamento de Água do Guandu
Estação de Tratamento de Água do Guandu Foto: Reprodução

Envolta em várias tentativas para resolver a crise hídrica na Região Metropolitana do Rio, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) tem usado um item para tentar remover a geosmina da água consumida na região, que chama a atenção dos consumidores pela composição. O produto em questão é o Phoslock, uma argila que contém 5% de um metal chamado lantânio.

De acordo com dados da própria Cedae, 190 toneladas de Phoslock, a argila modificada que contém o lantânio, foram lançadas desde janeiro do ano passado, quando ocorreu a primeira crise da geosmina. Ao todo, foram seis aplicações no rio que abastece a região metropolitana.

A mais recente das utilizações foi feita no último dia 23 de março, quando 28 toneladas do produto foram pulverizadas no Guandu. O Phoslock é usado em rios quando há proliferação de cianobactérias. Essa, segundo a Cedae, seria a origem da geosmina e do 2-mib, que mudaram o gosto e o cheiro da água.

Cientistas alertaram para a gravidade da crise no estudo “Colapso da qualidade do Rio Guandu”, em artigo assinado por especialistas da Uerj, da UFRJ e da Universidade Estadual do Norte Fluminense.

– A situação é de colapso. A água do Guandu é de péssima qualidade, e o lançamento do lantânio só agrava potencialmente o problema – salienta um dos autores da pesquisa, Fabiano Thompson, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio da UFRJ e da Coppe.

Contratada pela Cedae, a empresa de consultoria HydroScience, do Rio Grande do Sul, importou o Phoslock da Austrália, despejou o item no Rio Guandu e fez a análise do próprio trabalho. Os dados indicaram que, após duas aplicações, os níveis de fósforo chegaram a 0,4 mg/L, muito acima do máximo preconizado pelo Conama, que limita a concentração a 0,050 mg/L.

Segundo a Cedae, porém, a média da concentração de lantânio na água da lagoa foi de 0,0027 mg/L, após uso de Phoslock, nas análises de dezembro de 2020 a fevereiro de 2021. Uma concentração, de acordo com a companhia, “centenas a milhares de vezes inferior às que causam toxicidade a organismos aquáticos”.

Em nota enviada ao Pleno.News, a empresa afirmou que a água é segura para consumo e negou a contaminação do líquido por metal. A concessionária afirmou que o lantânio não é caracterizado como “metal pesado”, mas como “terra rara” utilizada, inclusive, em remédios para humanos.

A Cedae também reforçou que a companhia “analisou dezenas de artigos no mundo inteiro que atestavam que o uso do produto em meios aquáticos não apontava toxicidade” e que “antes de sua utilização na lagoa [do Guandu], o produto já era utilizado no Brasil e no mundo por outras empresas”.

Confira abaixo a nota da Cedae:

– A água distribuída pela Cedae é segura para o consumo e não está contaminada com metal pesado;
– Há erro na descrição do uso do Phoslock, ou argila lantânica, produto que contém 5% de lantânio;
– Como divulgado desde 2020, o produto foi usado no combate às algas produtoras de geosmina/MIB na Lagoa Grande, próxima ao Rio Guandu;
– O lantânio não é metal pesado, é terra rara, usado inclusive em remédios para humanos;
– A aplicação do produto em baixíssimas dosagens foi um procedimento regular e autorizado pelos órgãos ambientais competentes, Inea e Ibama;
– Não houve lançamento da argila lantânica na água tratada e distribuída à população;
– Antes de obter autorização do Inea, a Companhia analisou dezenas de artigos no mundo inteiro que atestavam que o uso do produto em meios aquáticos não apontava toxicidade;
– Antes de sua utilização na lagoa, o produto já era utilizado no Brasil e no mundo por outras empresas e já possuía credenciamento e autorização para aplicação no Ibama;
– Durante a manobra no Guandu, não houve lançamento de argila lantânica na lagoa.

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