Leia também:
X Senado aprova PL que impede prisão por atraso de pensão

China cancela compra de 600 respiradores para o Nordeste

Empresa não explicou a rescisão do contrato

Pleno.News - 03/04/2020 14h34 | atualizado em 03/04/2020 16h19

Carga de respiradores ficou retida nos EUA Foto: Divulgação

Uma carga de 600 respiradores artificiais chineses comprada por estados do Nordeste ficou retida no aeroporto de Miami (EUA), onde fazia conexão aérea para ser enviada ao Brasil.

O contrato no valor de R$ 42 milhões assinado pelo governo da Bahia como representante da região foi cancelado pela empresa fornecedora sem maiores explicações, no início da semana.

– Alegaram apenas razões técnicas – afirmou o secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster. A empresa, cujo nome não foi revelado, disse que a carga teria outro destino, não especificado.

A desconfiança é que os equipamentos se destinem agora ao combate da crise do coronavírus nos EUA, que teriam acertado pagar mais à empresa chinesa. “Estamos indo atrás de outro fornecedor”, disse Dauster. O valor não chegou a ser desembolsado pelo governo baiano.

O cancelamento da compra é exemplo de um fenômeno que vem acontecendo mundialmente, como revelou nesta quarta (1°) o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.

Agora que o presidente Donald Trump abandonou sua postura cética sobre o tamanho da crise e moderou as críticas à China, passou a olhar para o país asiático em busca de doações e compra de equipamentos. E outros países têm sido preteridos.

Apesar do risco de haver novos cancelamentos, governadores seguem recorrendo à China, por falta de opção.

Com a crise na sua fase final, a China se vê em posição de ajudar o mundo, num processo que já foi batizado de “diplomacia da máscara”.

Além de ganhar pontos geopolíticos, os chineses aproveitam para fechar negócios. Mas o gargalo na produção da China provoca situações como a vivida pela Bahia.

– A China tem uma enorme capacidade de produção, mas a demanda é mundial. Por isso, as fábricas só estão aceitando pagamento antecipado, o que tem gerado problemas para muitos estados – afirma Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.

A solução, diz ele, tem sido usar empresas chinesas baseadas no Brasil para atuar como “ponte”, pagando o fornecedor de forma adiantada e recebendo dos governadores quando a carga chega ao Brasil. Segundo Tang, o mundo todo já percebeu que não pode prescindir da ajuda chinesa neste momento.

Empresas chinesas no Brasil, como a CCCC (China Communications Construction Company), de infraestrutura, e a State Grid, do setor elétrico, têm sido chamadas a ajudar a obter doações e intermediar compras. Procurada pela reportagem, a embaixada chinesa não quis se manifestar sobre os pedidos de ajuda, mas tem divulgado com destaque iniciativas nesse sentido.

Na última terça (31), anunciou a chegada de 50 mil pares de luvas doadas ao governo do Maranhão, com ajuda da CCCC e de empresas brasileiras. O estado é governado pelo comunista Flávio Dino.

A busca pelos chineses, no entanto, transcende ideologias. No Pará, o governador Helder Barbalho (MDB) acertou a compra de 400 leitos de UTI pré-montados, completos com respiradores, por R$ 48 milhões. A previsão é que a carga chinesa chegue em 15 dias (por enquanto, está mantida).

À reportagem, Barbalho disse que a China tem de ser vista como parceira neste momento, e não como responsável pela crise, como querem os aliados do presidente.

Em São Paulo, onde o governador João Doria (PSDB) tem sido o principal antagonista de Bolsonaro no combate à crise, houve um pedido de ajuda na semana passada.

– Precisamos de camas de UTIs, respiradores, máscaras, equipamentos de proteção, luvas. Aceitaremos essa ajuda chinesa de bom grado – diz Júlio Serson, secretário estadual de Relações Internacionais.

No Distrito Federal, o governador Ibaneis Rocha (MDB) enviou pedido formal de ajuda à embaixada, em 19 de março. Solicitou equipamentos e ajuda de especialistas.

– Temos visto a capacidade chinesa no combate à propagação da doença. Eles estão conseguindo mitigar os efeitos e podem nos oferecer cooperação técnica – diz Renata Zuquim, chefe do escritório de assuntos internacionais do governo do Distrito Federal.

Ela diz que a primeira medida concreta de ajuda deve ser uma videoconferência entre profissionais da área de saúde do Distrito Federal e médicos da cidade chinesa de Chongqing, que lidaram com a doença. A tensão entre o governo federal e a China, segundo Zuquim, não afeta a relação do Distrito Federal com o país.

– O fato de termos uma proximidade até física com a embaixada nos ajuda. Tratamos diretamente com eles, têm sido muito prestativos – afirma.

Segundo Tulio Cariello, coordenador de análise e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China, a maioria dos estados tem ligação sólida e antiga com os chineses, em razão de anos de projetos de cooperação e investimentos.

– Os governos estaduais já têm um dialogo com a China que não passa pelo Itamaraty – afirma.

Para Cariello, a China é pragmática e não tem problema em se relacionar com qualquer governo do mundo, com a única condição de que não se pode tocar em assuntos internos, como a repressão a direitos humanos e liberdades.

“Os governadores sabem que os chineses pensam em business [negócios]. Os estados do Nordeste têm uma boa relação com eles por causa de projetos de infraestrutura. Os do Centro-Oeste, em razão da soja. Há vários exemplos – afirma.

*Fábio Zanini/Folhapress

Leia também1 Vírus: Mais de 200 mil pessoas já foram curadas no mundo
2 Mandetta: "Brasil pode buscar equipamentos na China"
3 EUA dizem que China ocultou casos e mortes por Covid-19

Siga-nos nas nossas redes!
WhatsApp
Entre e receba as notícias do dia
Entrar no Canal
Telegram Entre e receba as notícias do dia Entrar no Grupo
O autor da mensagem, e não o Pleno.News, é o responsável pelo comentário.