Briga de deputados na Alesp vai parar no Conselho de Ética
Confusão aconteceu nesta quarta-feira
Henrique Gimenes - 05/12/2019 19h00 | atualizado em 05/12/2019 19h44
Após provocar o público que assistia à sessão de quarta-feira (4) na Assembleia Legislativa de São Paulo e se tornar alvo de ameaça de agressão por parte de deputados do PT, o deputado Arthur do Val (sem partido) voltará a encarar o Conselho de Ética da Casa, que já lhe aplicou advertência no final de outubro.
A sessão chegou a ser suspensa após o empurra-empurra generalizado durante a discussão da reforma da Previdência proposta pelo governador João Doria (PSDB). Já passava das 21h30 quando houve a confusão no plenário.
Arthur, youtuber conhecido como Mamãe Falei e segundo deputado estadual mais votado em São Paulo (com quase 480 mil votos), é membro do MBL (Movimento Brasil Livre) e pré-candidato à prefeitura da capital paulista. Recentemente, foi expulso do DEM por fazer críticas ao partido e ao governo Doria, do qual a sigla é aliada.
Ele discursava na tribuna a favor da reforma e xingou, reiteradas vezes, os sindicalistas presentes no público de vagabundos. O público também devolveu xingamentos, gritou “vai morrer” e deu as costas a ele.
– Atrás do vidro é fácil, minha briga contigo não é aqui, de terninho e gravata. Eu vou acabar com teu privilégio. Você vai parar de mamar. […] Tá com medo, eu quero ver me encarar, ô líder sindical, eu quero pegar você, que toma o dinheiro dos trabalhadores, bando de vagabundo – disse Arthur se dirigindo a homens no público.
Foi quando o líder do PT, Teonílio Barba, que é sindicalista e metalúrgico, invadiu a tribuna com outros três deputados da sua bancada (Luiz Fernando Teixeira, Emidio de Souza e Enio Tatto). Eles não chegaram a agredir Arthur, que foi protegido pelo líder do Novo, Heni Ozi Cukier, em meio a uma grande confusão com vários deputados na tribuna.
O deputado Luiz Fernando Teixeira chegou a morder Heni enquanto o deputado do Novo o continha.
Barba afirma que o PT pedirá a cassação de Arthur ao Conselho de Ética, que é formado por nove membros.
Arthur, por sua vez, ainda não decidiu se entrará com alguma reclamação no conselho. Heni diz que já aceitou desculpas do deputado Teixeira e não levará o caso adiante.
A presidente do colegiado, Maria Lúcia Amary (PSDB), diz que a situação é grave e defende punição -não arrisca dizer, porém, se cabe cassação.
– Houve excessos dos dois lados, da agressão física e da incontinência verbal. Um erro não justifica o outro. Os dois comportamentos regimentalmente inadequados – diz ela.
O conselho, no entanto, só pode agir se for provocado -é possível que deputados não envolvidos diretamente na briga encaminhem representação ao colegiado.
Para Arthur, há hipocrisia do PT em pedir sua cassação. “Se pedem a minha cassação por chamar de vagabundo, o que merece quem vem dar porrada e o outro que dá mordida? – questiona.
O deputado, porém, reconhece que pode ser alvo de punição mais grave.
– É um tribunal politico, infelizmente eu fico à mercê desse julgamento – afirma.
Arthur já recebeu uma advertência verbal por ter chamado deputados de vagabundos em outra ocasião. A advertência verbal é a punição mais leve -as demais previstas são censura, perda temporária do mandato e perda definitiva.
– A reincidência causa uma situação mais complicada, mas não significa que, por conta dessa ação de ontem, seja uma pena mais grave, isso vai ser decidido isoladamente – diz Amary.
Numa legislatura marcada por brigas e discussões, o Conselho de Ética alcançou o recorde de 19 representações em 2019.
O deputado diz que não se arrepende de sua fala, mas mudaria seus gestos -ele chegou a fazer gestos obscenos.
– Quem estava galeria não era população normal, são sindicalistas vagabundos que agem com modus operandi de intimidação e ameaça – diz.
Arthur acusa, inclusive, os sindicalistas que o hostilizaram de serem os mesmos que ameaçaram o vereador Fernando Holiday (DEM), também do MBL, na Câmara paulistana. Na época, um tiro foi disparado contra seu gabinete.
Para Barba, não há motivo para que ele e Teixeira sejam punidos.
– Eu subi correndo, mas não agredi ninguém. E o Luiz Fernando já se desculpou. Foi um tumulto. É um absurdo o deputado da tribuna ficar provocando, poderia ocorrer invasão do plenário. Ele não gosta de trabalhadores, tem preconceito – completa.
Barba também reclama da postura de Cauê Macris (PSDB), presidente da Assembleia, por não ter tomado a palavra de Arthur. Macris pediu que Arthur não usasse a expressão vagabundo por não ser correto, mas o deputado já havia falado “vagabundo” ao menos cinco vezes.
Em nota, Macris afirmou que as cenas registradas “não condizem com a história da Assembleia Legislativa”.”O momento exige serenidade e responsabilidade, sem radicalização. O caso passará agora a ser analisado com total isenção pelo Conselho de Ética”, completou.
Heni Ozi Cukier também falou sobre o caso.
– Eu acho inadmissível usar a força para resolver. Que exemplo de democracia vamos dar ao país? Quero que todo mundo reflita e pondere aonde estamos chegando – questiona Heni.
Alvo da mordida de Teixeira, ele condena a provocação e o clima de beligerância na Assembleia.
– Eu não gosto de jogo de cena e retórica inflamada – disse.
A briga teve ainda um pano de fundo, segundo Arthur. Mais cedo, na mesma sessão, o deputado Enio Tatto (PT) acusou a deputada Janaina Pachoal (PSL) de aderir ao governo Doria.
– Uma deputada que logo logo vai ter que se explicar por que tão cedo ela caiu no colo do Doria – disse ele.
Janaina protestou, afirmando que a frase tem conotação sexual e que Tatto deveria respeitar as mulheres -o petista se desculpou pelo uso da expressão.
Arthur afirmou que quis defender Janaina, mas, para Barba, trata-se de uma mentira, já que o deputado não mencionou o episódio em seu discurso inflamado.
– O PT vem falar que Janaina sentou no colo do governador, mas quem votou no PSDB para a presidência da Casa foram eles. Isso me motivou a subir no plenário. Eu não quis falar o nome da Janaina, mas isso está no discurso – argumenta Arthur.
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*Folhapress
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