Belém corre para terminar obras antes da COP: “Está um caos”
"A COP é como organizar uma festa de aniversário de última hora", diz comerciante
Pleno.News - 28/04/2025 14h13 | atualizado em 28/04/2025 15h32
Belém
A cidade brasileira de Belém, no Pará, está correndo para concluir dezenas de projetos prometidos para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em novembro, uma situação que os moradores descrevem como “caótica”.
Pouco mais de meio ano após o início do evento, é difícil caminhar por esta cidade amazônica de 2,5 milhões de habitantes, cercada por rios e selva, sem ouvir o som da broca.
A “zona azul”, local onde serão construídos os pavilhões das negociações climáticas, ainda é um deserto empoeirado, como a EFE pôde constatar durante uma visita ao local a convite do governo do Pará.
O plano é terminar de pavimentar o caminho até o final de maio e depois deixar a ONU cuidar do resto.
Ao lado da futura “zona azul”, dezenas de jardineiros estão plantando palmeiras e samaumeiras no que será conhecido como Parque da Cidade, um amplo espaço de 500 mil metros quadrados com centros culturais e recreativos em construção, construído no local de um antigo aeroporto.

OBRAS LENTAS
O parque está 78% concluído, embora outros projetos ligados à COP estejam bem mais lentos, como a conclusão de 20% da Vila COP, o complexo residencial com 405 suítes para autoridades do mundo todo.
Especificamente, a escolha de Belém como cidade-sede da COP levantou preocupações sobre a capacidade da cidade, que até recentemente tinha apenas 18 mil leitos de hotel, para acomodar as 50 mil pessoas esperadas na conferência.
– Estamos dentro do cronograma de entrega das obras para o evento – disse à EFE o secretário regional de Infraestrutura e Logística, Adler Silveira, embora tenha reconhecido que o período de chuvas causou uma “desaceleração” no ritmo das obras.

ALTO INVESTIMENTO
O investimento planejado pelo governo do Pará de R$ 4,5 bilhões (aproximadamente 790 milhões de dólares) em infraestrutura inclui projetos que estão pendentes há décadas, como quilômetros de sistemas de esgoto para os 80% da população de Belém que ainda não têm acesso.
Mel Costa, de 32 anos, dona de um salão de beleza localizado no centro da cidade, que não tem rede elétrica e funciona com fossa séptica, convive há meses com o barulho da obra.
– A COP é como organizar uma festa de aniversário de última hora… está um caos, e eu me pergunto se vai dar tempo suficiente – diz ela com um sorriso, ao lado de um manequim de peruca.
Embora tenha perdido 30% de seus clientes devido à construção, Costa está ansiosa para se conectar à rede e se livrar da temida fossa séptica, que ela precisa esvaziar a cada três meses para evitar incidentes.
– É muito constrangedor quando enche, porque tenho clientes que vão ao banheiro e o cano não escoa quando dão descarga – explica.

AUMENTO DO TURISMO
O icônico mercado municipal do século 19, cuja estrutura de ferro foi trazida da Europa durante o ciclo da borracha, também está passando por reformas.
A lojista Isabel Barbosa, de 44 anos, teve que mudar temporariamente sua barraca de ervas para um local próximo, mas ela diz que não se importa.
Desde o anúncio da COP, ela notou um aumento no turismo, então trabalha todos os dias da semana sem pausa.
– Espero trocar de carro… – diz ela, antes de apontar para seu novo “produto estrela”: um perfume verde fluorescente chamado Chama Gringo.
*EFE
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