Thamirys Andrade - 13/09/2021 10h17 | atualizado em 13/09/2021 10h36

O traficante Luiz Fernando da Costa, conhecido como Fernandinho Beira-Mar, narrou ter feito greve de fome e viver sob condições de “tortura” no presídio federal de Campo Grande (MS). As declarações do criminoso, apontado como chefão da facção CV (Comando Vermelho), ocorreram em audiência de 50 minutos gravada em agosto deste ano e publicada pelo portal UOL nesta segunda-feira (13).

Beira-Mar foi transferido da penitenciária de Mossoró (RN) para Campo Grande em setembro de 2019 e alega ter sido mantido em cela isolada e escura por seis meses, sob a justificativa de que a unidade estaria analisando seu perfil para estabelecer a hierarquia entre os outros detentos. Ao juiz-corregedor federal Alton Igor Kita Conrado, Beira-Mar conta não ter podido estudar devido à escuridão no local.

– Quando cheguei aqui [ao presídio de Campo Grande], fui mantido isolado em uma espécie de VPI [Verificação Preliminar de Informação] administrativo. Alegaram me deixar isolado por um tempo desse para analisar o meu perfil. É impossível, porque estou há 14 anos [no sistema prisional federal]. Eles conhecem o meu perfil. Eu entendo isso como uma forma de tortura. […] Aí a direção responde: “O preso não tem que escolher”. Não quero escolher. Só quero ter o direito de ter um ambiente salubre para eu poder ler, poder estudar. Estava numa cela escura, sem condição de leitura.

Em agosto de 2020, Beira-Mar teria ficado 19 dias sem se alimentar como forma de protesto por ter passado por quatro meses sem assistência jurídica durante a pandemia da Covid-19.

– Sou contra a greve de fome, porque não acho que esse é o caminho. Fiquei em greve de fome para tentar atendimento com o meu advogado. Só depois disso, consegui.

Em meio à sua recuperação, Beira-Mar teria sofrido abuso de um servidor do presídio, conforme relatou à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).

– Estava no setor de enfermaria, sendo atendido […]. Ele me humilhou. Ele exigiu que eu abaixasse a cabeça. Deitado em uma cama, sem conseguir andar, ele me humilhou, gritou comigo, fez vários tipos de procedimento.

“PERSEGUIÇÃO”
Beira-Mar conta ter sido alvo de “perseguição” no sistema prisional por ter feito denúncias. Em agosto, ele irá apresentar um artigo comparando a situação dos presídios federais à crucificação de Jesus Cristo, no Congresso Internacional de Direitos Humanos de Coimbra, em Portugal.

– Há modus operandi nesse sistema para perseguir esse preso que não aceita opressão e covardia. Como é que eles fazem? Eles forjam procedimento de calúnia, para que o preso fique desacreditado e isolado. Conheço muitos agentes que abusam do poder e cometem crime – disse.

Beira-Mar também afirma sofrer problemas psicológicos e pediu atendimentos médicos particulares.

– Estou passando por um momento muito difícil na minha vida. Estou psicologicamente abalado. Desde que cheguei aqui, pedi tratamento com psiquiatra particular. Vou analisar todos os pedidos e ver o que não foi decidido, o que precisa instruir. É isso, né? Vamos aguardar – declarou ao término da audiência, quando foi levado algemado para fora da sala.

A advogada do traficante, Paloma Gurgel, confirmou as denúncias do seu cliente, alegando um “tratamento ilegal, em forma de perseguição”. Já o Depen (Departamento Penitenciário Nacional) declarou que a versão de Beira-Mar é “improcedente” e negou tratamento inadequado.

Leia também1 Viúva que mobilizou cidade por justiça foi quem matou o marido
2 Vereador de Duque de Caxias, no RJ, é assassinado a tiros
3 Ator do SBT é encontrado morto em apartamento de São Paulo
4 Filhos denunciam a própria mãe por ferir e castrar servidor do BC
5 Ministro da Saúde entrega novas unidades de saúde a ribeirinhos