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Apreensões de cocaína batem recorde no porto de Santos

Traficantes atuavam a partir da Bolívia, de onde traziam 1,5 tonelada da droga por mês

Ana Luiza Menezes - 29/12/2019 15h38

Traficantes atuavam a partir da Bolívia, de onde traziam 1,5 tonelada da droga por mês Foto: Divulgação

Em um dia, 198 quilos de cocaína estavam camuflados numa carga de café em grãos. Seis dias depois, foi a vez de outros 345 quilos serem achados num contêiner com açúcar. Depois, drogas encontradas em cargas de café, óleo de laranja e até sucata no intervalo de um mês fizeram com que fosse batido o recorde de apreensões de entorpecentes no porto de Santos, o maior do país.

Entre novembro e o início deste mês, seis toneladas de cocaína foram apreendidas pela Receita Federal em operações no local. Com isso, o total do ano alcançou 26,31 toneladas, em 54 ações, ante as 23,11 toneladas descobertas no ano passado, em 46 operações.

O cenário se repete no Paraná, onde foram apreendidas cerca de 15 toneladas da droga neste ano no porto de Paranaguá, número três vezes maior que o total do ano passado.

Para tentar despistar a fiscalização, traficantes infiltram a droga em contêineres sem conhecimento do exportador em meio às mais variadas cargas, como café em grãos, açúcar cristal, peças de automóvel, carne congelada, papel e até mesmo escavadeira hidráulica.

Bolsas esportivas abrigavam cocaína que iria para a Europa Foto: Divulgação

No último dia 4, a Polícia Federal (PF) apreendeu 11 aviões de uma quadrilha do interior paulista que tinha como alvo escoar cocaína pelo porto de Santos rumo à Europa, segundo o delegado da PF, Mauricio Galli.

Os traficantes atuavam a partir da Bolívia, de onde traziam 1,5 tonelada da droga por mês, dos quais 85%, ou quase 1,3 tonelada, tinha países europeus como destino, via Santos. Os criminosos entravam por Mato Grosso do Sul e chegavam a São Paulo.

O número de apreensões é crescente desde 2015 no porto paulista, responsável por cerca de 30% do comércio exterior nacional. Naquele ano, o total foi de uma tonelada e, no ano seguinte, já alcançou 10,6 toneladas. Em 2017, nova alta, com 11,5 toneladas.

A investigação da PF mostrou que a cocaína chegava ao país valendo 300% mais que na Bolívia. Se alcançasse a Europa, o percentual atingia 5.000% mais que no país produtor.

A avaliação de auditores da Receita é a de que cada quilo da droga pode chegar a valer 50 mil dólares (mais de R$ 200 mil) na Europa.

– Muita coisa passa, mas alguns bilhões não entraram nesse mercado. O preço é vantajoso [para traficantes], se conseguirem levar o lucro é muito grande – disse o auditor fiscal da Receita Federal Richard Fernando Amoedo Neubarth, chefe da divisão de repressão da alfândega de Santos.

No Paraná, em valores as apreensões no porto ultrapassaram o total de veículos de passageiros exportados pelas indústrias do estado, segundo dados do Ministério da Economia. Foram cerca de US$ 600 milhões em drogas, ante US$ 550 milhões em automóveis.

Apreensões de cocaína batem recorde no porto de Santos Foto: Divulgação

Segundo Neubarth, o crescimento das apreensões no litoral paulista pode ser fruto de uma combinação de fatores, envolvendo aumento de produção, do tráfico e das ações de fiscalização.

– Na Europa, que é o principal destino, também aumentaram as apreensões, não só saindo do Brasil, mas de portos da América do Sul, como Venezuela e Colômbia, e Caribe – contou.

Os portos de Roterdã (Holanda), Le Havre (França) e Antuérpia (Bélgica) estão entre os destinos preferidos dos traficantes.
Diretor-executivo da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), que representa principalmente empresas atuantes no porto de Santos, Angelino Caputo afirmou que as empresas são vítimas do tráfico e que sistemas implantados no local contribuem com as autoridades de fiscalização.

Cita como exemplo as cerca de 3.000 câmeras de monitoramento existentes no local, pagas pelos terminais portuários e cujas imagens são utilizadas pela Receita Federal.

– Tudo que podemos fazer ao nosso alcance para dar apoio à fiscalização, no apoio das cargas, nós fazemos. Nosso associado abomina qualquer forma de descaminho, colabora, não tem a menor resistência, pelo contrário, estão pré-dispostos a contribuir o máximo possível – afirmou Caputo.

Segundo ele, o foco da implantação dos sistemas foi o controle aduaneiro, não policial, mas ações como a criação da Central de Operações e Vigilância (COV), há seis anos, contribuem para a vigilância do porto.

O sistema custou, fora as câmeras, R$ 125,8 mil e tem custo mensal de R$ 6.500, dividido por 18 associados. Outro sistema adotado custou R$ 106 mil.

Bolsas de viagem e mochilas são o meio mais comum para o embarque da droga em Santos, por serem mais fáceis de serem colocadas e retiradas dos contêineres.

Tabletes de cocaína em meio a carga de café verde, que iria para a Bélgica Foto: Divulgação/Receita Federal

De acordo com agentes de repressão, a maioria dos casos de contaminação, que é o nome dado por eles aos contêineres em que drogas são encontradas, ocorre no trajeto até o porto, e não nos terminais.

Também já ocorreram apreensões de droga nos corpos de estivadores e após serem içadas de lanchas diretamente para os navios -prática mais comum à noite.

As câmeras auxiliam a fiscalização remota, feita por agentes a partir da base da Receita. Além das câmeras, há scanners que analisam as cargas dos caminhões que entram no porto. Se um contêiner é visto como suspeito, ele sai do fluxo e passa por fiscalização.

EM PARANAGUÁ, DROGA É ESCONDIDA DENTRO DE MAQUINÁRIO
A pequena população de Guaraqueçaba, litoral do Paraná, de pouco mais de 7.600 habitantes, recebeu no início do ano um presente da Receita Federal: uma máquina escavadeira e uma pá carregadeira. Temporais tinham causado deslizamentos de terra na região, comprometendo o deslocamento de moradores, e os equipamentos ajudaram na recuperação das estradas.

O maquinário, no entanto, não foi adquirido com dinheiro público, mas apreendido numa operação de combate ao tráfico internacional de drogas no terminal de contêineres do porto de Paranaguá. Assim como em Santos, esconder a droga dentro de instrumentos é apenas uma das várias formas que os traficantes utilizam para tentar burlar a fiscalização.

– É um espaço de difícil percepção [da droga], pois não são fáceis de passar pelo scanner – disse Luciano do Carmo Andreoli, delegado adjunto da Receita Federal.

Neste ano, foram quase 15 toneladas de cocaína apreendidas no local. O número é três vezes maior que o total do ano passado. Os meses com maiores movimentações foram janeiro, quando foram interceptadas três toneladas da droga, e outubro, com duas.

Para o major da Polícia Militar César Kamakawa, o aumento de apreensões no porto do Paraná tem ligação com o recrudescimento da fiscalização nos vários terminais de embarque marítimo do país, transferindo o interesse dos traficantes para o estado.

Outro fator apontado é a falta de combate ao problema na ponta, na produção. A proximidade fronteiriça, como com o Paraguai, também favorece a circulação do tráfico.

Kamakawa elencou ainda dificuldades para identificação do responsável pelo crime. Na maior parte das vezes, ele aponta, o exportador nem sabe da existência da droga na carga. Os traficantes aproveitam o momento de descanso dos motoristas de caminhões que levam o carregamento até o porto e chegam até a invadir o terminal de contêineres para colocar a droga dentro das cargas.

Outra modalidade de fazer a cocaína sair do país já foi registrada no Paraná. Com a ajuda dos serviços de inteligência, a fiscalização interceptou três toneladas do produto já em Guaratuba, a cerca de 50 quilômetros de Paranaguá.

– Estavam colocando a droga no contêiner já fora do porto – contou Kamakawa.

O aumento de operações e a integração dos diversos órgãos que atuam no porto têm o objetivo de dificultar a vida dos traficantes. Autoridades avaliam que, com a identificação das formas de passagem da droga, os criminosos terão que transferir a operação dos portos para outro lugar.

– É um movimento cíclico: eles arrumam novas formas de mandar a droga para o exterior, são pegos e acabam mudando o modo de envio. Pelo porto, eles estão vendo que não está dando resultado – avaliou o delegado-chefe da Polícia Federal de Paranaguá, Gilson Micoski Luz.

*Folhapress

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