Pleno.News - 02/09/2020 13h23 | atualizado em 02/09/2020 15h19

Escândalos envolvendo líderes religiosos não são raros, mesmo assim não deixam de surpreender. A ideia de uma pastora, um curandeiro ou um padre cometendo crimes não apenas escandaliza, mas também pode abalar pilares de crenças de pessoas.

Sob outra ótica, está a perspectiva de que qualquer religião está sujeita a sofrer nas mãos de pessoas mal-intencionadas e que é preciso separar a pessoa do discurso. Mas isso é possível?

A pesquisadora em Direito Ana Beatriz Pedrosa conversou com o Pleno.News sobre a relação entre os casos e como as investigações policiais e processos jurídicos afetam a fé de fiéis.

Como os casos podem ser relacionados?
Os casos se relacionam pelo meio em que cada um dos criminosos estava envolvido, o meio religioso. Notadamente, se utilizaram dele para o cometimento de crimes. Em razão da má utilização da fé, bem como da gravidade dos crimes cometidos, é possível observar um aspecto imoral nos delitos cometidos.

Mesmo sendo crimes diferentes, os escândalos comprometem a fé dos seguidores deles. Como dissociar as crenças das personalidades?
Acredito que os três casos emblemáticos mostram que ilicitudes podem acontecer no âmbito de qualquer religião. Cada uma delas terá sua forma de lidar com esses casos. No campo jurídico, uma investigação completa sobre os casos, envolvendo o modo como cada personalidade lidava com os fiéis e como os crimes eram cometidos, pode auxiliar os indivíduos a enxergarem que a religião pode ser falha, mas a fé é inabalável.

Religião pode ser falha, mas a fé é inabalável

Como avalia a relação entre esses crimes e a posição como líderes religiosos?
De um modo geral, acredito que os líderes dos casos que iremos debater se apoiam no direito à liberdade religiosa e se aproveitaram dela para cometer ilícitos penais. Ademais, alguns se aproveitam da imunidade tributária.

OS CRIMES DE CADA UM
Flordelis, pastora, indiciada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por cinco crimes: homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), associação criminosa, falsidade ideológica, uso de documento falso e tentativa de homicídio.

João de Deus, médium espírita e curandeiro: foi condenado a mais de 40 anos de prisão por tráfico de menores, assédio sexual, abuso sexual, estupro de vulnerável e posse ilegal de arma de fogo.

Padre Robson, líder católico, investigado pelo Ministério Público de Goiás: suspeito de ter desviado R$ 120 milhões de doações de fiéis. A investigação também apontou que ele controlava R$ 19 bilhões através de sede e filiais.

Neste sábado (5), a pesquisadora abordará o tema em uma entrevista live com o advogado Guilherme Augusto Portugal Braga, especialista em Direito Penal e Direito Internacional dos Direitos Humanos. O evento começa às 15h e o link para participação é mediante inscrição gratuita.

– Além disso, convidaremos pessoas que representam as três entidades religiosas para debaterem sobre o assunto dentro das perspectivas de cada uma. Ao final, abriremos para dúvidas e questionamentos – explicou Ana.

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