Carteiros mantêm greve e criticam Correios em carta
Classe seguirá de braços cruzados por tempo indeterminado
Gabriela Doria - 24/08/2020 19h43 | atualizado em 24/08/2020 21h15

Os funcionários dos Correios decidiram, no último fim de semana, que vão manter por tempo indeterminado a greve da categoria, iniciada no último dia 18. Nesta segunda-feira (24), os trabalhadores da estatal divulgaram carta aberta à população para expor os motivos que levaram à paralisação.
No documento, assinado pela Findect (Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras dos Correios), os funcionários afirmam que a estatal quer retirar direitos da categoria, “mesmo com o lucro de R$ 460 milhões dos Correios no primeiro semestre de 2020”, diz a carta.
– A greve não é culpa do carteiro, do atendente, do operador de triagem, do motorista ou motociclista. Eles já ganham os menores salários entre os trabalhadores de todas as estatais brasileiras. E estão tendo a remuneração reduzida através do corte de direitos – dizem os sindicalistas na carta.
Segundo o movimento sindical, os Correios quebraram um acordo coletivo assinado no ano passado e que seria válido até 2021. A empresa, entretanto, conseguiu, em 2019, uma liminar que delimitou a vigência do contrato somente até este ano.
Na última sexta-feira (21), dez dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mantiveram o entendimento de que o acordo é válido somente até 2020. O ministro Celso de Mello não votou, pois estava em licença médica.
Presidente do Supremo e relator do caso, o ministro Dias Toffoli, afirmou em seu voto que a extensão do acordo até o ano que vem faria com que a situação econômica dos Correios fosse “seriamente agravada”, com “a concreta existência de grave risco de dano à ordem econômica e administrativa da empresa”.
A proposta da estatal, criticada pelos trabalhadores, é de exclusão de 70 das 79 cláusulas do acordo anterior, acabando com direitos como licença-maternidade de 180 dias e adicional de risco de 30%, bem como a redução do vale-alimentação.
O diretor Sintect-SP (sindicato dos funcionários da estatal na Grande São Paulo e região de Sorocaba), Douglas Melo, avalia que a intervenção do STF na situação é “inconstitucional”. “O Supremo atuou em uma decisão que não lhe compete”, afirma.
Segundo Melo, a adesão à paralisação se mantém em torno de 70% na região metropolitana de São Paulo.
– A greve continua forte, pois, até o momento, a empresa não abriu nenhum canal de diálogo com as entidades sindicais – afirmou.
Em nota, a direção dos Correios classifica que “a paralisação parcial da maior companhia de logística do Brasil, em meio à pandemia da Covid-19, traz prejuízos financeiros não só aos Correios, mas a inúmeros empreendedores brasileiros, além de afetar a imagem da instituição e de seus empregados perante a sociedade”.
– Os Correios têm preservado empregos, salários e todos os direitos previstos na CLT, bem como outros benefícios dos empregados – acrescenta a estatal. A empresa diz ainda que, no último fim de semana, mais de 1,2 milhão de cartas e encomendas foram entregues em todo o país. Para isso, houve remanejamento de pessoal de áreas administrativas para o setor de entregas.
A empresa reforça também que ainda está atendendo o público.
– Em todo o Brasil, a rede de atendimento segue aberta e os serviços, inclusive o Sedex e o PAC, continuam disponíveis. As postagens com hora marcada permanecem temporariamente suspensas – medida em vigor desde o anúncio da pandemia – assegura a empresa.
*Folhapress