Brasil pode sair do Mercosul se Argentina não colaborar
Bloco quer derrubar tarifas de importação e Argentina pode se opor
Gabriela Doria - 23/10/2019 13h51 | atualizado em 23/10/2019 19h55
O Brasil cogita deixar o Mercosul caso a Argentina não concorde com a redução de alíquotas de importação a serem praticadas pelo bloco dentro de quatro anos. Uruguai e Paraguai já fecharam com o Brasil em 80% dos mais de 10 mil itens negociados.
A estratégia, revelada por representantes dos países, será uma saída drástica para que o Brasil possa levar adiante o plano do ministro da Economia, Paulo Guedes, de promover a abertura da economia e o aumento da produtividade.
A saída do bloco geraria um novo impasse em relação ao acordo de livre-comércio com a União Europeia. O governo já faz consultas para saber se o tratado valeria para o Brasil mesmo fora do Mercosul.
A reportagem teve acesso à última proposta tarifária discutida entre os países, revelada pelo jornal Valor Econômico. Por ela, a indústria será a mais afetada, com redução média do imposto de importação para o setor de 13,6% para 6,4%. Em cada dez itens, seis teriam descontos superiores a 50%. Na média, a TEC (Tarifa Externa Comum, imposto de importação cobrado sobre bens de outros países para entrar nos territórios de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) ficaria em 6,8%, com uma redução de 40%.
Veículos de passeio passariam dos atuais 35% para 12%. Na cadeia do aço, a tarifa média cairia de 10,4% para 3,7%. Laminados planos, insumo da produção de veículos, seriam taxados a 4% em vez de 14%. Alguns tipos de plástico teriam corte de 12% para 8%. Na indústria que fornece o insumo (polipropileno), a queda seria de 14% para 4%.
Se ele for implementado, o setor têxtil nacional, por exemplo, poderá ter tarifas equivalentes às do Canadá. As alíquotas de adubos e fertilizantes estariam niveladas com a dos EUA e até menores que as da União Europeia.
Além de questionar a metodologia, a Argentina nem sequer enviou sua proposta para os itens em discussão.
Representantes de Brasil, Uruguai e Paraguai dizem acreditar que a Argentina deve travar o acordo caso a chapa de Alberto Fernández e da ex-presidente Cristina Kirchner vença as eleições presidenciais. Eles são protecionistas. A redução precisa do aval dos quatro países-membro.
Neste caso, Guedes teria de “virar a mesa do bloco”, nas palavras de um negociador, e convencer Jair Bolsonaro a abandonar o Mercosul.
Essa situação será discutida na próxima reunião do Mercosul, em dezembro, no Rio Grande do Sul.
*Folhapress
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