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Agência de checagem erra ao apontar termos como racistas

Agência Lupa publicou matéria afirmando que várias palavras teriam origens racistas, mas depois teve que se corrigir

Paulo Moura - 25/11/2021 11h23 | atualizado em 25/11/2021 12h02

Checagem da Agência Lupa foi contestada nas redes Foto: Reprodução/YouTube Agência Lupa

Autodenominada como “a primeira agência de fact-checking do Brasil” e famosa por “classificar” notícias de sites conservadores e declarações do presidente Jair Bolsonaro como “falsas”, a Agência Lupa dessa vez provou do próprio veneno ao classificar erroneamente, no último sábado (20), termos utilizados no cotidiano brasileiro como “racistas”.

O fato foi registrado em uma reportagem publicada pela Lupa em razão da passagem do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro. Nela, a agência citava termos que teriam origens em expressões ou condutas racistas, como a palavra “doméstica” e expressões como “feito nas coxas” e “criado-mudo”. O fato, porém, é que algumas das palavras não têm qualquer conexão com racismo.

A palavra “doméstica”, por exemplo, uma das mais criticadas nas redes, foi apontada pela Lupa como sendo originária do fato de que as “domésticas eram as mulheres negras que trabalhavam dentro da casa das famílias brancas e eram consideradas domesticadas”. A versão, porém, é contestada por dicionários e estudiosos da língua portuguesa.

O Dicionário Houaiss, por exemplo, estabelece que a palavra “doméstica” tem origem no latim “domesticus”, com o sentido de “casa, doméstico, particular, privado”. O primeiro uso do termo como adjetivo data do final do século XIV, de acordo com Índice do Vocabulário Português Medieval, ao menos um século antes das primeiras expedições escravagistas portuguesas na África.

Origem da palavra “doméstica”, citada pela Lupa Foto: Reprodução/Twitter

Outra expressão contestada foi “feito nas coxas”. Na reportagem original da agência, foi dito que as telhas das moradias do período da escravidão “eram feitas de argila e moldadas nas coxas de escravizadas e escravizados”. Entretanto, em 2006, o arquiteto José La Pastina Filho contestou essa versão e destacou que a medidas das coxas humanas não seriam compatíveis com as peças.

Origem da expressão “feito nas coxas”, citada pela Lupa Foto: Reprodução/Twitter

Uma palavra que também foi citada e que, segundo a reportagem, teria conotação racista é “criado-mudo”. Apesar de ter a origem apontada diversas vezes como tendo relação com a escravidão, há muitos questionamentos sobre essa origem. Um dos apontamentos indica que as mesas ao lado da cama já haviam sido inventadas antes do período escravagista.

Origem da expressão “criado-mudo” citada pela Lupa Foto: Reprodução/Twitter

Uma outra versão aponta que o termo é uma adaptação de “dumbwaiter” (criado-mudo, em tradução do inglês), um elevador usado para trazer alimentos de um andar para o outro. Na língua inglesa, a palavra é atestada desde 1749, como “uma estrutura com prateleiras entre uma cozinha e uma sala de jantar para transportar alimentos etc”.

AGÊNCIA É CRITICADA NAS REDES SOCIAIS
Após a reportagem sobre a origem das palavras ter sido questionada por inúmeros usuários nas redes sociais, indicando inclusive que as justificativas para muitos dos termos e expressões seriam completamente diferentes daquelas indicadas pela Agência Lupa, o veículo publicou uma matéria e uma série de tuítes se retratando do conteúdo anterior.

Em seu site, a Lupa compartilhou um conteúdo com o título “CORREÇÃO: Conheça a origem histórica de expressões consideradas racistas”. No texto, a agência corrigiu o significado de várias palavras e destacou que a origem de “doméstica”, por exemplo, realmente não seria racista e a de expressões como “feito nas coxas” seria “imprecisa”.

No Twitter, a agência adotou um tom similar, mas de forma resumida, e corrigiu a origem das palavras publicadas anteriormente na rede social. Entretanto, os internautas não perdoaram a chamada “retratação” e destacaram que a credibilidade da Lupa ficou em cheque por conta do conteúdo completamente errôneo divulgado.

Outra reclamação foi o fato de que o tom que a agência usou para “se desculpar” por seu erro foi bem diferente daquele que ela costuma usar para marcar as publicações que considera como falsas. Além dos selos chamativos destacando que determinada matéria não é verdadeira, a agência tem parceria com redes como o Facebook que impacta no alcance de páginas “verificadas” pela agência.

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