Esgotamento emocional e a importância do acompanhamento familiar
A virtualização da vida social parece ter contribuído fortemente para essa realidade
Marisa Lobo - 17/05/2022 12h37
Vivemos numa geração na qual a habilidade para lidar com as emoções parece ter diminuído, pois nos tornamos mais impulsivos, reativos, incompreendidos e vitimados por circunstâncias que, às vezes, só existem porque outros não sabem administrar os próprios conflitos.
A virtualização da vida social parece ter contribuído fortemente para essa realidade. Me refiro, aqui, à falta de experiência prática de vida, quando podemos aprender uns com os outros, olhando nos olhos, e não através da tela de um celular ou computador.
Com o distanciamento social e a imersão no mundo virtual, tendemos a deixar de desenvolver a capacidade de enfrentar frustrações oriundas do relacionamento com o outro. Em vez disso, passamos a regular o nosso modo de agir e pensar pelo que vemos na internet.
Esse estilo de vida virtualizado, no qual a ênfase não está no mundo real, mas em expectativas de “aceitação” e “perfeição” que oscilam a todo momento, tem contribuído para o surgimento de problemas como a ansiedade generalizada, estresse e depressão, uma vez que certos ideais nunca são atingidos por esse contexto.
O esgotamento emocional, portanto, pode ocorrer quando pessoas que vivem imersas na virtualização de suas atividades e relacionamentos não conseguem obter, por esse meio, os recursos psicológicos necessários para se manterem motivadas, satisfeitas consigo mesmas e, consequentemente, felizes.
A importância da família
Explicado esse contexto, quero destacar o importante papel da família no acompanhamento de pessoas que estão sob o risco de esgotamento emocional. Isso é de suma importância, sobretudo, devido ao fato de que o público jovem é o que mais sofre com esse problema.
Estamos falando de crianças e adolescentes que, pela falta de acompanhamento e experiências no mundo real, mergulham no mundo virtual e passam a medir as suas expectativas a partir dele. É daí que o risco de esgotamento se torna real e crescente.
Mas, você pode se questionar, de onde vem esse esgotamento? Normalmente, das expectativas não atendidas; da frustração dos planos idealizados; do choque de realidade entre o virtual e o real; da falta de conhecimento acerca de si mesmo perante um estilo de vida que não instrui, somente cobra e ensina a competir.
A fonte do esgotamento pode ser variada, mas é real. É por isso que a presença da família é fundamental. Não é por menos que temos um número crescente de crianças e adolescentes manifestando problemas de ordem emocional, enquanto casos chocantes de violência aumentam mundo afora, nesse segmento.
A presença familiar deve ocorrer por meio da afetividade, na qual pais e filhos mantêm o canal de diálogo aberto, com intimidade e empatia. Também ocorre com o incentivo à experiência fora do mundo virtual, assim como pela reação de ajuda ao menor sinal de que algo de errado está acontecendo com o jovem.
Que os pais, profissionais de saúde, líderes religiosos e sociedade em geral, estejam atentos ao sinais do esgotamento emocional, fazendo cada qual o seu papel para evitá-lo. Que sejamos apoio uns para os outros, e não cargas desnecessárias. Essa é a minha recomendação de hoje.
Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior. |