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Associar humor à pedofilia é favorecer a ação de pedófilos contra crianças

O filme mostra um personagem cômico que abertamente pede para ser masturbado

Marisa Lobo - 15/03/2022 11h18

O Ministério da Justiça determinou que a exibição seja suspensa Foto: Divulgação

Precisamos falar sobre os perigos da pedofilia! É triste lidar com um assunto quando ele vem à tona pelos motivos errados, a exemplo das cenas exibidas no filme Como se Tornar o Pior Aluno da Escola, protagonizado pelo apresentador Danilo Gentili e com a participação do ator Fábio Porchat.

Os motivos, neste caso, se devem ao uso perigoso do humor para retratar uma cena de abuso sexual, na qual dois adolescentes são coagidos por um homem adulto que pede para ser masturbado. Tudo ocorre em tom de piada e incentivo ao ato, uma vez que o personagem interpretado por Porchat alega ser algo absolutamente “normal”.

Ao comentar a repercussão negativa da cena, Porchat argumentou que o personagem interpretado por ele se trata de um “vilão”. E o compara a outros já conhecidos do cinema mundial para tentar justificar a cena como algo ruim, típico de alguém que é realmente “mau”.

O problema é que a cena exibida no filme de Gentili não retrata o personagem de Porchat como um vilão, de fato. O trecho não mostra um homem criminoso, repulsivo e perigoso que está tentando cometer a atrocidade do abuso sexual, e onde o sofrimento das vítimas é destacado diante de uma situação criminosa.

O filme mostra, isto sim, um personagem cômico que abertamente não apenas pede para ser masturbado, como também defende a prática como algo “normal”, de modo que a recusa seria “preconceito” por parte dos adolescentes. A mensagem transmitida pelas cenas, portanto, não é a de um vilão condenável, mas de apologia à pedofilia!

Se trata de algo muito grave, infelizmente, pois a tentativa de associar o humor a um ato de pedofilia contribui para a ação de pedófilos que abusam sexualmente de crianças, tendo em vista que esse é um dos principais recursos utilizados por eles para atrair as suas vítimas.

Cientes da atrocidade que cometem, alguns abusadores usam o tom de humor, brincadeiras, joguinhos e brinquedos para se aproximar de crianças e adolescentes. Eles fazem isso com o objetivo de seduzir, enganar e praticar o abuso sexual de forma que a imagem atrelada ao crime não pareça violenta e cruel aos olhos da vítima.

Percebam que foi exatamente esse o tom adotado pelo personagem de Porchat. O de alguém que estaria fazendo uma proposta tipo “joguinho”, na qual os adolescentes aceitariam fazer a masturbação para ganhar algo em troca. É um reflexo fiel do que ocorre no mundo real, mas retratado de forma naturalizada, banal e irresponsável.

Dito isso, termino reiterando o que já escrevi em outro artigo esta semana: pedofilia não é motivo de piada para ser retratada em filme de comédia. Essa associação é imoral e irresponsável, além de um profundo desrespeito às vítimas de abuso sexual. Quanto ao filme citado neste artigo, que a Justiça tome as providências cabíveis.

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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