Opinião Yvelise de Oliveira: Conduzindo nossas vidas
Como dosar o trabalho, a felicidade e a vida? E, nesse coquetel de ingredientes tão diferentes, conseguir a mistura quase perfeita?
Yvelise de Oliveira - 06/03/2018 10h00
O ritmo que às vezes impomos a nós mesmos deve ser dosado e avaliado, porque exigir demais, além de nossas possibilidades, pode causar-nos profundo estresse.
Sempre pensei que estresse fosse doença de rico, imaginária. Não percebi os sintomas chegando, nem respeitei os alarmes que meu corpo e minha mente enviavam, sutilmente, para avisar-me. Anos de disciplina de trabalho impediram-me de perceber sua chegada.
Primeiro, uma certa indiferença pelo dia a dia; o mundo foi desbotando diante dos meus olhos. Movia-me como um robô bem treinado, eficiente, mas cansada demais para perceber a exaustão. O cansaço físico não é nada, se comparado ao mental. Sempre exigi muito de mim, e trabalho porque gosto muito do que faço. Mas, pela manhã, não queria sair da cama, e o dia a dia tornou-se um verdadeiro horror.
É difícil admitir que estamos precisando de descanso quando há tanto a realizar. É preciso ter autocrítica, tomar consciência da hora de parar e reformular a maneira como estamos conduzindo as nossas vidas.
Até perceber isto, a irritação tomou conta de mim e a impaciência estava presente em quase todos os meus atos. Comecei a exigir demais dos outros. O sono deixou de ser um descanso, sempre agitado. Por isto, pela manhã estava sempre exausta.
Fico feliz de haver conseguido avaliar esse meu momento de profundo acúmulo de cansaço, luta e desilusões que foram responsáveis pelo rompimento da couraça, que a gente acaba tendo que vestir para aguentar o tranco que é viver neste insensato mundo.
Pergunto-me se algum de vocês não está, também, cometendo o mesmo erro, de não saber dosar o trabalho, a felicidade e a vida. E, nesse coquetel de ingredientes tão diferentes, conseguir a mistura
quase perfeita.
Não se permita ser tragado pelo redemoinho feroz das exigências deste mundo moderno. Pare e volte ao tempo antigo. Sente-se no chão, jogue papo fora com os amigos, leia poesia, perca seu tempo com você mesmo. Afinal, só se vive uma vez.
Ao refletir sobre isto, vem-me à memória os versos de uma poesia que li não sei onde:
“Não passarei por este caminho outra vez.
Por isso, todo o bem, todo o amor, tudo que devo fazer deixe-me fazer logo.
Não posso adiar, não posso esperar, não passarei por esse caminho outra vez”.
Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma. |