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Sentimento de injustiça e impotência deixa a população desiludida e com medo

A população tem feito reiteradas manifestações contra as cortes superiores

Marisa Lobo - 26/10/2021 14h33

Sede do Supremo Tribunal Federal Foto: STF/SCO/Dorivan Marinho

A justiça é uma referência para o ser humano em muitos aspectos da vida. Não se trata apenas de um código, de livros ou de uma Constituição Federal como a nossa; antes, é um conceito amplo, regido por padrões éticos e morais que alimentam, aí sim, a produção de conhecimento jurídico, o qual materializa a visão de mundo de um povo.

Quando a justiça deixa de existir ou passa a existir de modo falho, consequentemente o povo que depende dela para nortear as suas ações também sofre. Vemos isso, por exemplo, em regiões onde a corrupção domina a vida pública e onde a criminalidade existe de tal modo que as forças de segurança não são capazes de proteger a população.

O que a população sente nessas situações é um profundo sentimento de injustiça e impotência. O cidadão que se vê injustiçado por, por exemplo, não ver seus direitos garantidos pelas autoridades torna-se alguém desacreditado em sua própria sociedade e em seus governantes.

A INJUSTIÇA NO BRASIL
Em nosso país, infelizmente o sentimento de injustiça tem sido traduzido pela população por meio de reiteradas manifestações contra as cortes superiores, sobretudo contra ministros do Supremo Tribunal Federal. O povo tem feito protestos não só pelas redes sociais, o principal meio de comunicação popular atualmente, mas também nas ruas.

Isso é muito triste porque, em vez de sentir indignação, angústia e medo, a população deveria enxergar nos seus juízes verdadeiras fontes de segurança, estabilidade e equilíbrio social. Mas, no Brasil atual, a impressão que temos é a de que está acontecendo justamente o contrário. O povo sente indignação e até medo!

Essa opinião não é só minha. Ela é compartilhada por juristas renomados que dispensam comentários, assim como por analistas políticos e por intelectuais. No tocante a mim, interpreto a situação pelas lentes da psicologia social, e ela me diz que grupos populacionais que se sentem coletivamente desamparados se tornam mais suscetíveis a uma dessas duas reações: desordem generalizada ou servidão total.

A desordem, neste caso, é quando o povo se volta contra os seus governantes e autoridades em geral. É o caos. Estamos vendo um pequeno exemplo disso em protestos pelo mundo contra medidas restritivas aplicadas em nome da pandemia.

No segundo caso, a servidão total é quando o povo se vê completamente impotente diante da situação, a ponto de se “entregar” à tirania e às injustiças. É o momento em que a opressão das autoridades públicas se torna tão insuportável que a impressão popular é a de que ceder é a melhor e única opção.

Devemos, portanto, ficar em alerta quanto aos sinais que estamos vendo surgir no Brasil. A sensação generalizada de injustiça e tirania – partindo das mais altas cortes e provocando angustia e medo em boa parte da população – não é algo que deva ser visto como normal. Muito pelo contrário; é algo para ser discutido e encarado como um grave problema de possível adoecimento da nossa democracia.

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.

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