Coluna JR Vargas: A (des)religiosidade
(Des)religiosidade não significa necessariamente a conversão a outra religião, mas o afastamento dos princípios em que se foi criado
JR Vargas - 07/02/2018 10h20
É bem conhecido o fenômeno do crescimento do islamismo no mundo. Um dos fatores é a procriação. Em geral, o número de filhos é bem acima da média mundial. Na África, por exemplo, não é incomum encontrar famílias com quatro a seis filhos. Contudo, uma recente pesquisa apontou que, pelo menos entre os americanos, uma parcela substancial de adultos criados muçulmanos, 23%, não se identifica como membros da fé. Dentre as razões apontadas estão: não gostam de religião organizada, não acreditam em Deus, discordam dos ensinamentos, fanatismo/terrorismo.
Esse movimento contrário, que chamo aqui de “(des) religiosidade”, não significa necessariamente a conversão a outra religião, mas o afastamento dos princípios em que foram criados. Reitero que esses dados são do universo americano, porém servem para provocar uma boa reflexão. Números muito próximos, 22%, enquadram os que abandonam a fé cristã. Curiosamente, 77% dos norte-americanos que se converteram ao Islã eram cristãos, ou seja, podemos ter muitos que deixaram o cristianismo pelo islamismo, e, depois, deixaram este também.
Embora o caminho de entrada para a religiosidade seja maior que o de saída, os números são bem valiosos e me levam a algumas conclusões e perguntas:
- O ceticismo atinge cristãos, muçulmanos e, certamente, outras religiões. O fenômeno do não crer mais é um problema a ser debatido e tratado. Será que já creram os que afirmam não mais crer? Estavam no grupo, mas omitiram seus questionamentos até que puderam revelá-los?
- Há falha na instrução e formação religiosa. Uma perda de cerca de ¼ entre os que integraram a comunidade é um índice muito alto. A culpa é da fraca educação religiosa familiar? As instituições religiosas não cumprem seu papel com eficiência?
- As religiões deixaram de responder questões importantes para as novas gerações. Se algumas perguntas não são respondidas, para muitos, já o foram. O silêncio ou omissão enfraquece? Há distanciamento do que é realmente importante para os mais novos?
Respeito a religiosidade alheia. Professo o cristianismo e fui chamado a conhecê-lo e anunciá-lo. No Brasil, a migração é maior dentro do Cristianismo do que para fora dele. Todavia, precisamos avaliar as questões aqui apresentadas, e tantas outras que me ocorreram. O que sucintamente apresentei é bem diferente de ser “desigrejado”, conceito já popular no país. Vale a pena olhar para dentro, fazer um autoexame, e também para os lados. Pode ser que alguém esteja olhando para o alto em busca de respostas que já foram dadas, mas ainda não sabe.
JR Vargas é pai do Lucas Campos Vargas; Pastor Plantador da Igreja Presbiteriana das Américas, na Barra da Tijuca, RJ; Radialista, Apresentador do Debate 93, da Rádio 93FM; Escritor; Graduado e Pós-graduado em Comunicação Social e Teologia. |