Yvelise de Oliveira - 30/01/2018 09h15

“Existe uma menina dentro de mim que se recusa a morrer”…

Eu vivo, alegro-me e sofro, e estou sempre lutando para tornar-me um ser humano melhor. Escuto, constantemente, a voz da menina quase sempre em protesto. Não presto atenção, porque sei que ela nada tem a ver com a minha vida adulta. Mas a voz é insistente…

Às vezes, acordo com vontade de viver “a sua vida”. Assumir um papel diferente daquele que é o meu cotidiano. Gostaria de ouvir o que está dentro de mim sem nenhum som externo, sem nenhuma influência. Apesar da vivência que tenho, não existe um referencial dentro de mim que me permita entender “a maldade”, digo, maldade na sua real extensão.

A maldade sempre me deixa atordoada. Lembro-me de que, quando era bem jovem, caiu-me nas mãos um livro sobre campos de concentração. Chamava-se Treblinka. Foi o primeiro de uma infinidade que li sobre o massacre, o genocídio do povo judeu.

Todo o horror nazista e a guerra que não vivenciei, porque nasci no ano exato em que ela terminou, foram algo que nunca consegui absorver e entender, tornando-se o meu pesadelo particular durante muitos anos da minha vida.

“O demônio andava solto e livre por dentro dos campos de extermínio nazistas. Em seu nome, faziam-se as maiores atrocidades.” Esta é a frase de um rabino judeu. Ele vivenciou o holocausto de seu povo e sobreviveu…

A melhor parte de todo ser humano é aquela que é a criança que vive em todos nós: a parte inocente, a parte de Deus. De algumas pessoas assim emana uma sensação de segurança, uma coisa simples que talvez seja dignidade de coração.

“Vinde a mim as criancinhas”. Creio que Jesus se referia, também, aos adultos, que, de alguma forma, conseguem manter viva dentro de si “a criança”. É isso que faz que algumas pessoas adquiram um ar de juventude, independentemente da idade que tenham.

Jesus continua: “E não as impeçais, porque das tais é o reino de Deus”. Não impeçais que a criança que existe dentro de cada um venha à tona, porque sinto que é esta a parte do ser humano que nunca deixou o Paraíso.

Gosto de escrever sobre gente, sobre momentos que considero dádivas; bons momentos e os maus momentos. Examinando retrospectivamente os meus sonhos da juventude, vejo que se parecem com muitos que ainda tenho. “Ela que está em mim e se recusa a morrer…”, ainda espera algo diferente. Cria expectativas, metas a serem alcançadas, impulsiona-me para adiante.

Definitivamente, é ela quem me faz investir em meus sonhos e esperanças. Gosto de saber que o mundo e toda a maldade que nele existe não conseguirão destruir a menina, a criança que vive em mim, que, com certeza, vive em vocês também. É só deixá-la fluir…

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.