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El Calafate, cidade dos glaciares – parte 1

Turismo, Perito Moreno, Lago El Chatén, Glaciar Viedma e muito mais

Milton Assumpção - 17/07/2017 11h25

El Calafate, cidade dos glaciares Foto: Divulgação

Não há uma data de fundação específica da cidade. Era um ponto de parada e pernoite dos criadores de ovelha e viajantes em direção ao porto de Rio Gallegos, no Atlântico.
Há 20 anos a cidade tinha 3.000 habitantes, hoje, com o crescimento do turismo, possui cerca de 20 mil moradores.

El Calafate está localizada na margem sul do lago Argentino formado por águas de cor turquesa, de glaciares da cordilheira dos Andes. O lago tem cerca de 120 quilômetros de comprimento e 20 quilômetros de largura, em média. Em alguns pontos, a profundidade chega a 750 metros.

A cidade fica a 80 quilômetros da Cordilheira do Andes. É uma cidade pequena, bonita, bem arborizada com uma avenida central, El Libertador, onde estão as lojas, agências de turismo, bancos e restaurantes.

Turismo

O período de turismo é de meados de setembro a meados de abril. A temperatura média na primavera e no verão gira em torno de 5 a 14 graus. Quando venta, e venta muito, a temperatura cai bastante. De manhã, às vezes, amanhece com uma chuva fina, fria, e antes do meio-dia, o sol brilha forte. O tempo muda muito rapidamente no mesmo dia. Por isso, a recomendação é vestir-se adequadamente sempre.

Outra recomendação é consultar todos os dias a previsão do tempo; o clima é elemento fundamental para aproveitar os passeios na região.

Todas as principais atrações de El Calafate ficam a vários quilômetros de distância. Ou seja, você sempre vai ter de subir em uma van ou ônibus e viajar algumas horas para chegar ao destino. Todos os passeios demandam um tempo. A programação da saída dos tours é fundamental.

Perito Moreno

Francisco Moreno foi apelidado de Perito Moreno por sua perícia no trabalho que executava. Cientista, naturalista e explorador argentino, foi responsável pela marcação das divisas territoriais com o Chile na cordilheira dos Andes. Foi o descobridor das geleiras, das montanhas, rios e dos lagos, desta região da Patagônia. Coube a ele dar nome à maioria destes lugares.

Reverenciado como herói nacional, foi homenageado ao darem seu nome ao glaciar mais importante – Perito Moreno. É o glaciar mais perto de El Calafate e fica a 80 quilômetros. O tour pega você no hotel às 9h e retorna às 17h.

Perito Moreno é a maior atração da região. É um glaciar que termina em uma ponta de terra, diferentemente de todos os outros que terminam em um lago. O tour inclui um passeio de barco bem próximo do paredão de gelo. Depois, você pode caminhar por uma extensa passarela muito perto da parede de gelo. Este é um passeio obrigatório.

Fotos do Glaciar Perito Moreno Foto: Milton Assumpção

Lago El Chatén e Glaciar Viedma

O tour para El Chatén leva o dia inteiro. Sai do hotel às 7h e volta às 20h30. No trajeto, que leva cerca de três horas, há uma parada no hotel La Leona. Todo o tempo que ficamos dentro do ônibus é compensado pela beleza do passeio.

El Chaltén fica a 220 quilômetros de El Calafate, e é considerada a capital argentina do Trekking. A opção de caminhadas e trilhas nesta região atrai um número muito grande de caminhantes.

Monte Ritz Roy, o maior da região

Uma das maiores atrações é o Monte Fitz Roy. Com uma altitude de 3.375 metros, relativamente pequena para os Andes, tem sido um desafio para os alpinistas. As suas paredes verticais exigem técnicas perfeitas para a escalada. Somente profissionais tem conseguido atingir o cume.

Em dias claros o monte é visto de muito longe, se destacando no horizonte.

Perito Moreno colocou o nome em homenagem a Robert Fitz Roy, capitão do navio HSM Beagle, da expedição de Charles Darwin.

Estrada para El Chaltén; Monte Fitz Roy Foto: Milton Assumpção

A atração maior do tour é o passeio de barco pelo lago até o glaciar Viedma. É simplesmente maravilhoso. O barco navega por entre pedras enormes de gelo, brancas e azuis.

Perito Moreno colocou no lago e glaciar o nome de Viedma, em homenagem ao espanhol Antonio de Viedma, que em 1782 descobriu este lugar.

Glaciar Viedma em El Chatén Foto: Milton Assumpção

Lagos e Rios

Para quem aprecia é muito interessante identificar os rios e lagos.

O lago Argentino é formado por diversos glaciares, incluindo o Perito Moreno, e contribuição de pequenos rios, incluindo o rio Caterina, caminho dos salmões.

O lago Viedma é formado por águas provenientes dos glaciares e por rios, entre eles, e principalmente, o rio La Vuelta.

Do lago Viedma sai o rio Leona, que desemboca no lago Argentino, próximo de El Calafate.

Do lago Argentino sai, então, o rio Santa Cruz que percorre 383 quilômetros e deságua no oceano Atlântico.

Durante os tours é possível identificar bem os cursos dos rios e os lagos. O que surpreende é a cor azul turquesa das águas vindas dos glaciares.

Hotel La Leona – Butch Cassidy e Sundance Kid

Foram dois famosos bandidos americanos que estavam sendo procurados nos EUA por roubo a bancos e decidiram fugir e se esconder na América do Sul. Há um ótimo filme com Paul Newman e Robert Redford, com o nome de Butch Cassidy, que conta a história dos dois bandidos.

Como tinham amigos em Buenos Aires, foram para lá primeiro. Preocupados de que notícias mundiais chegassem até lá, decidiram, por sugestão do amigo, se esconder na Patagônia. Compraram uma pequena estância e se apresentaram como negociadores de ovelhas e gado.

Depois de algum tempo, decidiram voltar à ativa e assaltar o Banco de Londres e Tarapaca em Rio Gallegos, que fica a 200 quilômetros do hotel La Leona, onde pretendiam se esconder por alguns dias.

O planejamento do assalto incluía trocar de cavalos várias vezes durante a fuga, já que a polícia não estaria preparada para isso e não os alcançaria.

No caminho de Rio Gallegos foram negociando com alguns estancieiros a troca de cavalos, sem detalhar a finalidade.

Chegaram em Rio Gallegos e abriram uma conta no banco. Durante uma semana foram todos os dias ao banco e saíam de cavalo em disparada.

No dia do assalto, saíram em disparada com seus cavalos e as pessoas não ficaram surpresas, pois tinham feito isso todos os dias.

No caminho, foram trocando de cavalos, estabelecendo uma distância grande da polícia e se hospedaram no hotel La Leona.

Quando a polícia chegou e mostrou as fotos dos bandidos, os donos do hotel reconheceram que eles haviam ficado hospedados ali, e tinham ido embora.

Dali, foram para a Bolívia. Há três versões para o que aconteceu com eles.

Assaltaram um banco e foram cercados em um rancho pelo exército boliviano, que os matou. Outra versão diz que, cercados, cometeram suicídio atirando nas próprias cabeças. E uma terceira, que voltaram para os EUA, se entregaram e passaram a colaborar com a polícia para prender assaltantes de bancos.

Hotel Leona, às margens do rio Leona, onde Butch Cassidy e Sundance Kid se escoderam Foto: Milton Assumpção

Glaciar Upsala

O passeio a este glaciar faz parte do tour da Estância Cristina. Foi para mim o melhor de todos.

O barco atravessa uma grande parte do lago Argentino, cercado de montanhas com picos nevados e vai direto para frente do Upsala. Pelo meio dos blocos de gelo brancos e azuis o barco se aproxima do paredão do glaciar. É indescritível a beleza que podemos ver. As fotos que tiramos não reproduzem o que os olhos registram.

De lá, seguimos para a Estância Cristina, que foi também durante muitos anos criadora de ovelhas e produtora de lã. Os novos tecidos criados pela indústria jogaram para baixo o preço da lã, desestimulando o investimento. Hoje são poucas as estâncias que continuam criando ovelhas para extração de lã.

Caminhando, o guia conta a história do lugar enquanto visitamos as antigas instalações de tosquia das ovelhas.

Uma atração especial é o rio Caterina de onde tiram a água doce para o lugar. No século passado era uma roda d’água, ainda preservada no local. Hoje há um motor elétrico.

Glaciar Upsala Foto: Milton Assumpção

Rio Caterina e Lago Pearson

O rio Caterina, de tom azul turquesa, tem no máximo 3 quilômetros. Nasce no lago Pearson, mais acima, que é formado pelas águas dos glaciares. Caudaloso, deságua no lago Argentino, ainda dentro da Estância. Mede cerca de 15 metros de largura e tem uma profundidade variável de 2 metros.

O lago Pearson é o lugar escolhido pelos salmões para desova. Os salmões sobem 383 quilômetros do Oceano Atlântico pelo rio Santa Cruz até o lago Argentino. Atravessam os 120 quilômetros do lago, entram no rio Caterina e chegam no lago Pearson para desova. Isso ocorre de janeiro a abril. São salmões de 80 centímetros a 1 metro de comprimento. A fêmea desova e morre. O macho choca as ovas e também morre. Em abril, os moradores não podem apanhar água do rio Caterina, de tanto salmões mortos que descem a correnteza. De lá, os novos fazem o trajeto de 506 quilômetros de volta para o oceano Atlântico.

Como as tartarugas marinhas, eles voltam para desova no lugar onde nasceram.

Estância Cristina- Lago Argentino; Cabana em El Chatén Foto: Milton Assumpção

Na próxima semana, continuaremos esta viagem maravilhosa. Até lá.


Milton Assumpção é economista, administrador de empresas e palestrante. Empreendedor por natureza, atua como CEO da M.Books. Autor de cinco livros, sempre gostou de viajar e conhecer diversas culturas.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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