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A ética do desejo

”De onde vêm as guerras e contendas que há entre vocês? Não vêm das paixões que guerreiam dentro de vocês?" Tiago 4:1.

Daniel Camaforte - 13/12/2017 09h40

Somos seres desejantes. E somos assim mesmo antes da queda.

A imagem do episódio em que Adão e Eva caem, cedendo a tentação, no capítulo 3, do livro de Gênesis, nos revela a natureza curiosa dessa força motivacional que está dentro de nós: O desejo.

Mas o que é desejo?

O desejo pode ser entendido como um senso de anseio ou expectativa em relação a pessoas, objetos, experiências ou resultados. O desejo é ainda a vontade, a incessante busca da experiência, da satisfação.

No desejo está envolvido a volição, que expressa as ações motivadas por desejo. Além disso, o desejo envolve também a pertinácia, ou seja, a garra, a perseverança e até uma certa teimosia para se chegar a qualquer lugar. O desejo também é expresso nas emoções. Quando realizado, desperta sentimentos de realização, alegria, satisfação e prazer. Quando não realizado, pode gerar raiva, frustração, amargura, entre muitos outros.

Foi o filósofo Thomas Hobbes que afirmou que o “desejo humano é a motivação fundamental de toda ação humana”. Mais à frente, o também filósofo Jeremy Bentham disse algo semelhante: “A humanidade está colocada e dividida entre dois senhores: o prazer e a dor”.

As estratégias de Marketing se utilizam de pesquisas de tendências e usam técnicas para estimular o desejo humano. Perversamente, essas estratégias também fazem com que as pessoas desejem agora o que elas não desejavam antes.

Nos escritos de Freud, o prazer é a busca instintiva da evitação da dor. E se dirige para a satisfação das necessidades fisiológicas e emocionais. É a força que guia as ações do inconsciente representado pela criança em analise transacional.

Podemos dizer que o desejo é, digamos, a parte criança em nós… Não é a parte infantil, mas o aspecto “criança” da personalidade e da experiência humana. Uma criança é desarmada, pura, criativa. Para um adulto fica sempre inapropriado não saber lidar com limites e com o não. O adulto saudável aprendeu a esperar, e a adiar suas gratificações, pois o desejo e o prazer se chocam com a realidade… Ou seja, nem sempre a voz do desejo pode ser atendida…

Para efeito de exemplo, todos temos necessidade de ir do ponto A ao ponto B. Isso pode ser feito de carro ou ônibus, atendendo às nossas necessidades de deslocamento. Decidir ir de BMW expressa o desejo de ter um carro diferenciado e carregar o status da marca. Por isso, de muito longe, se pergunta qual é ou quais são os objetos de nossos desejos…

Deus está sempre pronto a suprir nossas necessidades. Isso está registrado nas Escrituras, para o bem, saúde e sanidade das nossas emoções: “O meu Deus suprirá todas as necessidades de vocês, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus” (Filipenses 4:19).

Quem quiser ter todos os seus desejos realizados, o tempo todo, deve buscar o gênio da lâmpada, e não o Deus das Escrituras, o Deus da Bíblia. A Bíblia é um livro cuja temática sempre aborda as questões da vida no campo da ética.

E o que é ética?

De forma bem simples e abreviada, é o saber que pensa sobre o que é certo e errado em termos da conduta da pessoa, da natureza das coisas e das instituições humanas. Nossa ética, ou seja, o que regula nossa conduta é a Palavra. Assim, devemos pensar sempre em termos de uma ética do desejo a partir da Bíblia, pois por meio dela devemos enxergar a vida.

Convido você a ler o capítulo 4, do livro de Tiago, e ali, você irá encontrar a ética de que falo aqui.

Resumidamente, o desejo precisa de freios, pois são os desejos da carne não satisfeitos que geram guerras de toda natureza, a começar dentro de uma casa. Pois um quer um tipo de comida, e o outro quer outro tipo. E só isso já é motivo para briga e discussão, e para a perda de um bom final de semana em família. São as pequenas guerras que geram as grandes tragédias no final.

Por isso, alguém tem que ceder… No que for razoável e maduro.

Assim, convido você a uma vida orientada pelo equilíbrio de um adulto saudável, que sabe se contentar, sabe esperar e dar a vez ao outro. Alguém que já se acostumou a adiar recompensas e que consegue perseverar em torno de um ideal de vida não egoísta, não egocêntrico, não infantil. Alguém pronto para viver nas fronteiras seguras do contentamento. Não se iluda: Muitas são as árvores como as do jardim que não devem sequer ser tocadas. O restante do Paraíso, dentro dos limites da ética do desejo, pode e deve ser desfrutado.

Este é o meu desejo e a minha oração para você, em Nome de Jesus.

Daniel Camaforte é psicólogo clínico, terapeuta cognitivo comportamental, escritor, palestrante e conferencista internacional, especializado em dependência química pelo PUC-Rio com extensão em Neurociências pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Dirige o CCH – Centro de Cuidado Humano.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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