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Quem não aprender a perdoar sofrerá para sempre

É provado cientificamente que o perdão alivia a alma, cura alguns tipos de transtornos psíquicos e aumenta o sistema imunológico.

Marisa Lobo - 29/02/2020 08h00

Se as pessoas soubessem que o perdão é terapêutico, evitariam dores e doenças psicossomáticas. Provavelmente, perdoariam muito mais ou não se sabotariam. Muitas pessoas preferem carregar a dor a ter que perdoar. Usam o não perdão como um castigo para o outro e mal sabem que a falta de perdão não prejudica o outro mas a si mesmo.

Raiva e ressentimento se voltam contra aqueles que os sentem. Quem vive ressentido, com raiva, sofre muito, ainda que não saiba. Mas seu inconsciente transforma a falta de perdão em dor física e, muitas vezes, em doenças graves, podendo até desencadear ou provocar alguns tipos de câncer. É provado cientificamente que o perdão alivia a alma, cura alguns tipos de transtornos psíquicos, e aumenta o sistema imunológico. Já a dificuldade de perdoar aumenta as dores emocionais, causa doenças e pode ser um grande fator para agravar a depressão, por exemplo.

Cintia (nome fictício de uma paciente) chegou em meu consultório com ansiedade, tristeza e muita raiva. Queria perdoar uma pessoa que havia feito muito mal no passado, um passado muito distante (15 anos). Ou seja, por 15 anos , Cintia sofria por algo que uma amiga lhe fez. Nunca quis perdoar ou nunca conseguiu perdoar. Passou 15 anos sendo engolida pela mágoa, que gerou insegurança, ansiedade e, com o tempo, veio uma insegurança e pânico.

Não cabe aqui expor o problema. Mas quando alguém nos trai, seja por qual motivo for, seja amizade, seja parceria profissional, ou mesmo em relacionamentos, se não elaborarmos e não perdoarmos, a raiva e o ressentimento gerados podem paralisar nossas vidas.

É ruim nos magoarmos, nos frustrarmos, com pessoas em quem depositamos tantas expectativas, não é mesmo? Embora tenhamos que ter a consciência de que ninguém tem a obrigação de corresponde-las. Por isso, nos ferimos tanto. Depositamos nossa esperança sempre em outro ser humano. Uma primeira lição para não nos frustramos com as pessoas, com o mundo em que vivemos é não depositar no outro a responsabilidade de nossa felicidade. A segunda é a necessidade de nos fortalecermos como pessoas junto ao nosso Deus, que é nossa fonte de virtude e de força. De posse desta força, que nos move para uma vida saudável, aprendemos a perdoar. Logo, se perdoamos, menos dores teremos. E mais livres seremos.

O ato de perdoar é importante, pois nos livra de maus sentimentos como o rancor, a raiva e a vingança. Quando sentimentos negativos como esses dominam um ser humano, o pior dele se manifesta, desencadeando danos físicos e psíquicos a si mesmo e aos que o cercam. Ou seja, não é só nosso emocional que se beneficia com o perdão, é nosso corpo.

É provado cientificamente que o perdão alivia a alma, cura alguns tipos de transtornos psíquicos e aumenta o sistema imunológico

A mágoa contínua durante muito tempo é extremamente nociva para o corpo, a alma e o espírito. Afinal, quem não perdoa, limita as suas possibilidades de amar, e se paralisa, não produz para a vida. Pessoas que não conseguem perdoar, geralmente, são imaturas emocionalmente, têm muitos problemas de saúde física e emocional. Quanto ao espírito, faço uma pergunta:

Como podermos estar próximos de Deus, se não conseguimos colocar em prática seu maior mandamento que é o amor e o perdão? Como podemos estar tranquilos com nossa mente em paz, se sempre estamos remoendo a raiva de alguém que sim, nos magoou, é verdade, mas, que deve estar vivendo sua vida, enquanto estamos remoendo a mágoa?

O perdão é uma oportunidade para se libertar de amarras negativas do passado e seguir adiante. Sendo assim, perdoar é uma ação libertadora que simboliza a inteligência e permite o amadurecimento de uma pessoa. Não perdoar impede a chance de viver novas possibilidades e ter mais satisfação na vida pessoal.

Existem pessoas que têm facilidade de perdoar. Outras têm que aprender a perdoar, ainda que, a priori, sintam-se revoltadas, com a ideia de liberar perdão a quem fez tanto mal. Aqueles que não querem aprender a perdoar reagem com indignação, rejeição e raiva com a simples ideia de perdão. Claro, você não pode forçar ninguém a perdoar. Mas estar ancorado em raiva e ressentimento não é um “castigo” para aqueles que nos feriram, mas para nós mesmos.

Uma meta-análise de 25 estudos realizados no University College London revelou que existe uma forte correlação entre raiva e hostilidade mantidas ao longo do tempo e risco de ataques cardíacos. Essas emoções também foram associadas a outros problemas de saúde, como o câncer.

A mágoa contínua durante muito tempo é extremamente nociva para o corpo, a alma e o espírito

Há um outro estudo realizado na Universidade da Califórnia, em que 332 pessoas foram acompanhadas por cinco semanas. Foi detectado que o nível de estresse era diretamente proporcional à quantidade de ressentimento e raiva, enquanto diminuia quando as pessoas perdoavam. Ou seja, a capacidade de perdão está intimamente ligada a capacidade de perdoar. O perdão é, sim, capaz de apagar o impacto negativo do estresse e da angústia gerados pelas piores situações que já vivemos.

Perdoar não é acabar com a justiça do ato negativo que a pessoa fez a outra, mas é confiar na justiça divina para a resolução, para a justiça. O perdão existe para que sejamos livres de todo negativismo, de toda a mágoa, de toda a frustração, de toda a raiva que só desencadeia em nós maus sentimentos, pensamentos, nos adoece e nos afasta de Deus.

Perdoar não é um ato de libertação para quem cometeu o mal, mas para a pessoa que sofreu. Perdoar não é esquecer. Quem sofreu um abuso, por exemplo, não esquece. Mas é perdoando que alivia sua dor interior, transformando esse dor em resiliência, que poderá ser o combustível para uma vida transformada. Perdoar é reconhecer as cicatrizes, o trauma terrível, mas significa também deixar aquelas cicatrizes serem curadas ao invés de despejar vinagre sobre elas, tendo até um prazer mórbido para que ela doa eternamente.

Não se ache um fraco por conceder perdão, pois perdoar é um grande sinal de inteligência emocional e maturidade. É uma decisão de não deixar que o passado condicione o seu futuro.

Entenda que o perdão é um ato interno que nos beneficia. Não precisamos daquele que nos prejudicou para se arrepender. Perdoe-se e perdoe, independente do agressor. Perdoe para agradar a Deus e o restante lhes será acrescentado. Creia que o perdão é para sua saúde e bem-estar mental e espiritual.

Perdoar não é um ato de libertação para quem cometeu o mal, mas para a pessoa que sofreu.

Sabemos que o perdão é um processo. E como um processo, tem altos e baixos. E como qualquer processo, pode ter retrocessos. Mas, aos poucos, entendendo os benefícios e ou estragos que ele causa em nós, com maturidade e amor a Deus e a nós mesmos, conseguiremos perdoar o próximo. Perdoar é um processo complexo que exige transformações profundas nas concepções que temos sobre o evento traumático.

Mas é necessário deixar a raiva, a magoa ir. Isso significa desistir do papel da vítima e recuperar a sua força, abandonando a raiva e lutando para ser feliz. Apesar de todas as atrocidades que possam ter ocorrido em nossa vida, não deixe que a raiva continue a exercer uma influência nociva sobre você. No lugar dessa mágoa, coloque Deus e você no lugar.

O perdão é uma das coisas mais libertadoras que alguém pode fazer. A falta de perdão é como uma pedra amarrada na perna de alguém, que a arrasta para o fundo do mar.

Pois, se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial também perdoará vocês. Mas, se não perdoarem uns aos outros, o Pai celestial não perdoará as ofensas de vocês (Mateus 6:14-15)

 

Marisa Lobo possui graduação em Psicologia, é pós-graduada em Filosofia de Direitos Humanos e em Saúde Mental e tem habilitação para Magistério Superior.

 

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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