Rasga coração, deixa Deus entrar
Quando o poço do inferno ruge aos nossos pés, somos verdadeiramente provados e vemos a imensidão do amor de Deus
Yvelise de Oliveira - 31/10/2017 09h15
Quando minha caminhada se torna tão difícil a ponto de não conseguir ir adiante — nem um mais um passo — é porque tenho torrentes de lágrimas para chorar.
Eu sei… É hora de abrir as comportas e deixá-las sair. Elas saem rasgando o coração, abrindo feridas que não cicatrizaram ainda, arrancando a pele — que fica em carne viva. Sinto-me desnuda.
Tropeço, caio, não sinto mais em mim a força da fé. A fé não em Deus mas em mim, em mim mesma como parte de um corpo maior. Sozinha escuto meus gemidos — são secretos — são entre eu e Deus.
É quando do chão, da terra úmida, molhada do pranto, sobe uma raiva que é ao mesmo tempo cura e libertação. Como quem se parte ao meio, deixo falar o coração abrindo a boca e soltando as amarras dos sentimentos.
Eu não posso guardar o que me magoa, o que me dói, o que me corrói. Preciso dizer, falar, chorar e pedir ajuda. Preciso e faço.
Vou de encontro à verdade seja ela qual for. As consequências me matam ou me libertam. “O que não me mata, me fortalece”.
É um combate desigual, minha fúria não mais contida por anos de treinamento de boa conduta e todo esforço de ter domínio próprio sai arrastando tudo. É o tsunami da alma, não vejo mais nada.
É a cegueira total…
Então…
Como corpo de Cristo, a Igreja se levanta e usa sua maior arma — a Igreja ora, chora comigo, me ouve, me aplaca, me acaricia, me abraça e me envolve.
Brota amor em toda parte. A raiva fica suspensa no ar morno e abafado que precede a ira, que tem suas raízes cortadas, pela voz mansa e suave de quem nasceu para pastorear, para apascentar…
Apascenta, Senhor, a minha alma, tira de mim o jugo da desobediência, não deixa sair de tuas entranhas vivas, uma alma que sempre te serviu.
Choro por dentro, choro por fora, sou um rio de lágrimas. Rasgo o coração, desnudo minha alma, sangro… É preciso para renascer forte e serena, com uma crença mais forte ainda porque é uma crença que se questiona, uma fé que apesar de humana, nasce e vive no sobrenatural que é incompreensível para muitos.
Porque é quando o poço do inferno ruge aos nossos pés que somos verdadeiramente provados e podemos ver a imensidão do amor de Deus e nossa total dependência Dele, para vencermos nossas fraquezas e dúvidas interiores.
Temos então o direito divino de nos sentirmos “crentes”. Aqueles que verdadeiramente creem e seguem.
A fé é o que nos torna a semente do Senhor.
A boa semente…
Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma. |