Crise no Cruzeiro: quais são os motivos que poucos falam?
Time vai da invencibilidade à sua pior campanha nos pontos corridos em poucos meses
Marcelo Penido - 20/09/2019 07h56
O Cruzeiro vive a maior crise de sua história e os problemas que começaram no campo administrativo inevitavelmente se instalaram no campo técnico.
A Raposa começou o ano como um dos “times a serem batidos” e chegou ao Campeonato Brasileiro com o melhor desempenho entre todas as equipes da série A.
Até o dia 26 de abril, véspera da estreia no Brasileirão, o Cruzeiro estava invicto na temporada, com 16 vitórias e cinco empates em 21 jogos. Havia sido campeão mineiro e tinha 100% de aproveitamento na Libertadores da América.
O aproveitamento de 84% antes do início do Brasileiro contrasta com os atuais 49%. De lá para foram 28 jogos, sendo cinco vitórias, nove empates e 14 derrotas.
A equipe Celeste terminou o primeiro turno do Campeonato Brasileiro na zona de rebaixamento com apenas 18 pontos em 19 partidas na pior campanha dos mineiros na sua história nos pontos corridos.
A eliminação nas semifinais da Copa do Brasil também foi marcante: 4 a 0 para o Internacional no placar agregado.
Na Libertadores saiu de cabeça erguida após dois empates sem gols com o atual campeão River Plate e uma eliminação nos pênaltis.
Mas afinal, o que aconteceu com o Cruzeiro?
No início de maio os três membros que integravam o Conselho Fiscal do clube pediram demissão e decidiram expor a falta de transparência e práticas no mínimo duvidosas da atual diretoria.
Os ex-conselheiros denunciaram uma série de práticas irregulares que iam desde a não apresentação de notas fiscais ou recibos de compras até o repasse de parte dos direitos econômicos de menores de idade.
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Os principais alvos são o presidente Wagner Pires de Sá, o vice de futebol, Itair Machado, o diretor-geral, Sérgio Nonato, e o empresário Cristiano Richard dos Santos.
A apuração vai concluir o que já está óbvio para todo mundo: a falta de transparência e de boa governança dos atuais dirigentes levou o Cruzeiro a uma crise sem precedentes.
O clube tem cerca de R$ 520 milhões em dívidas, segundo o balanço divulgado em 2018. O rombo só não é maior porque os valores da venda de Arrascaeta ao Flamengo, realizada nesse ano, foram incluídos de forma irregular no balanço do ano passado.
A coisa saiu do controle quando as denúncias vieram à tona e ficou difícil para o vice de futebol justificar os atrasos salariais quando os jogadores descobriram que ele autorizou o aumento do próprio salário três vezes em um ano.
As investigações correm em sigilo no Ministério Público enquanto o time sofre em rede nacional, mas o caminho para recuperação não é segredo. O primeiro passo é afastar aqueles que já deveriam ter saído por iniciativa própria, mas insistem em lesar o clube; depois é preciso instaurar uma auditoria completa para ver o tamanho do rombo para finalmente elaborar um plano estratégico para sair da crise.
Por maior que tenha sido o desvio existe algo que nenhuma administração incompetente ou má intencionada poderá tirar: a grandeza do Cruzeiro e de sua torcida.
Marcelo Penido é jornalista especializado em Gestão, Marketing e Direito Esportivo com passagens pelas rádios CBN, Globo e Tupi e pela TV Band News. Filho do locutor Luiz Penido, nasceu no meio do futebol e é apaixonado pelo esporte. Nesse espaço vai falar sobre o dia a dia dos principais clubes do Brasil. |