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Cuidado com propostas de enriquecimento rápido

Em matéria de ganhar dinheiro, não existe atalho. Quem tenta ser esperto acaba se dando mal

Anderson de Alcantara - 26/03/2019 12h01

O “Conto do Vigário” é um golpe no qual não existe vítima Foto: Pixabay

“Se controlarmos a nossa riqueza, seremos ricos e livres; se a riqueza nos controlar, seremos na verdade pobres” (Edmund Burke)

Olá, caro leitor do Pleno.News! Como vai? Tudo bem?

Dentro da nossa jornada de estudos sobre os 03 elementos Multiplicadores de Riqueza (clique aqui para ler), semana passada eu já comecei a abordar a questão do TEMPO com um artigo sobre loterias que deu bastante o que falar nas redes sociais (clique aqui para ler). Na base, a primeira coisa que alguém objetiva ao jogar na loteria é encurtar o tempo. As outras vantagens vêm depois – e eu falo delas neste artigo – mas o desejo inicial realmente é o de botar as mãos em uma boa soma de dinheiro logo de uma vez, porque juntar dinheiro leva tempo e dá muito trabalho.

A gente vai aprender um bocado sobre isso aqui ainda, e eu vou mostrar para vocês que é possível, sim, com esforço, disciplina e sabedoria, “chegar lá”. O problema ocorre quando a gente tenta pegar atalhos, atraídos por promessas de ganhos rápidos e fáceis.

Em matéria de RISCO, a loteria até que afeta pouco a vida das pessoas. Afinal, para concorrer a prêmios milionários, basta desprender-se de alguns poucos reais para fazer uma aposta. Por outro lado, porém, para não depender só da sorte, frequentemente vimos pessoas se arrebentando ao apostar suas economias em “investimentos” que se apresentam com propostas muito atrativas de rendimentos bem acima da média. Cuidado!

Quando comparam investimentos, a maioria das pessoas ainda usa – equivocadamente – como parâmetro os rendimentos da Caderneta de Poupança. Quem é meu leitor atento já sabe que ela não serve como parâmetro de proteção e correção de um capital ao longo do tempo, e sim a Taxa Básica da Economia (clique aqui para ler).

Partindo deste ponto e conhecendo as formas mais inteligentes de se obter ganhos consistentes expostos a baixo risco, com base nesta taxa (clique aqui para ler), é importante entender que todo investimento que ofereça um retorno acima da Taxa Básica da Economia tem um potencial embutido de risco. Ou seja, se a Taxa Básica da Economia está em 6,5% ao ano, e alguém aparece diante de você com uma lâmina de um Fundo de Investimento que ofereça 8% ao ano, é bom conferir qual é a TAXA DE RISCO embutida neste fundo para que ele venha buscar dar 1,5% a mais que a Taxa Básica da Economia. Se a TAXA DE RISCO for maior que o retorno médio real (acima da Taxa Básica da Economia) do fundo, esqueça – não vale a pena.

O grande problema é que existe uma infinidade de empresas não reguladas pelo Banco Central e órgãos de controle anunciando e oferecendo promessas de retornos milagrosos para investimentos.

Recentemente, uma destas empresas fez uma propaganda maciça na internet mostrando uma jovem que alegava “ter começado a investir em ações aos 19 anos com apenas R$ 1.520,00 e, três anos depois, teria obtido mais de R$ 1 milhão. Simples assim”. Na verdade – como quem tem bom senso já esperava – as coisas não são tão simples assim e já se descobriram elementos adicionais nesta fórmula:

  • a jovem não contou somente com o aporte inicial de R$ 1.520,00 para fazer fortuna: recebeu vários ‘presentinhos’ do seu pai em dinheiro e ações ao longo destes 03 anos para agregar à sua estratégia;
  • a jovem, nesse meio tempo, acabou entrando para a empresa e se tornando uma analista de mercado, trabalhando diariamente cerca de 12 horas por dia em cima de números e informes econômicos, aplicando-os em tempo real à sua estratégia – o que seria impossível de ser feito por qualquer outro trabalhador que só contasse com suas horas vagas para operar na bolsa;
  • durante o período alegado (2016-2019) a Bolsa de Valores brasileira subiu 130% com uma Taxa de Risco em torno de 72%. Isso significa que em uma estratégia normal de bolsa, a jovem poderia ter chegado a R$ 3.496,00 de resultado. Para alcançar R$ 1 milhão, a coisa não é tão simples: teria sido necessário fazer diversas operações de alavancagem por dia, expondo, em todas elas, o seu capital a uma Taxa de Risco de 99,99%. Ou seja: ela teria que ter se exposto a milhares de chances de ter perdido tudo ao longo dos últimos 3 anos, sem ter errado nunca.

Por esse tipo de propaganda induzir boa parte da parcela desinformada da população a resultados praticamente inatingíveis e a uma exposição excessiva de risco, diversos processos já estão sendo instaurados contra esta empresa (CVM, Conar, etc.).

Escândalos como esse não são novidade. As Pirâmides Financeiras são o mais conhecido método fraudulento para tirar dinheiro de investidores incautos. Há diversos casos clássicos no Brasil e no mundo. Só este ano, no Rio de Janeiro, 02 casos foram estourados pela Polícia por terem lesado milhares de pessoas em centenas de milhões de Reais. Resumidamente, o líder do negócio se apresenta como uma pessoa experiente no mercado e convence outras pessoas a aplicarem recursos com a promessa de ganhos expressivos em pouco tempo. Mas, ao invés dos investidores abrirem contas em seu nome, em corretoras confiáveis (já falei sobre elas aqui também), estes eram levados a transferir seus recursos para o escritório pessoal do agente, e é aí que mora o perigo: ao começar a naufragar com o esquema, um deles está foragido e o outro, suicidou-se. Não há proteção contra perdas dos investidores nestes casos. Há também os esquemas onde os investidores são estimulados a recrutar novos participantes, recebendo, como recompensa, percentuais altos de ganho que dão a ilusão de efeito multiplicador do dinheiro. Na verdade, o “rendimento” não resulta de lucro gerado pela atividade comercial da empresa, mas sim do dinheiro aplicado pelos recém-chegados. Esse modelo é conhecido como esquema Ponzi. Ele é popular desde a década de 1920, quando foi criado nos Estados Unidos por um especulador chamado Charles Ponzi. O esquema funciona apenas enquanto houver entrada de novos participantes, mas, com o tempo, torna-se insustentável. Se, em determinado momento, todos os integrantes decidirem sacar os recursos, a pirâmide não se sustenta. A prática é considerada crime no Brasil. Quando identifica um negócio desse tipo, a CVM encaminha denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) para que seja aberto inquérito e o caso seja julgado nos âmbitos cível e criminal. Nesse caso, além do risco de se perder dinheiro, você corre o risco adicional de ser autuado no inquérito e responder por crime, se colocar alguém no esquema e este se sentir lesado e lhe denunciar. Esteja atento! Muitos golpes possuem alguns pontos em comum:
  1. o fraudador se apresenta como alguém (ou mostra o caso de um cliente) que enriqueceu e diz que é possível aos outros conseguir a mesma coisa, mas só através daquele esquema;
  2. exclusividade do negócio, ao apontar que a oportunidade está sendo oferecida a poucos;
  3. a oportunidade é por tempo limitado ou está prestes a desaparecer, produzindo-se uma sensação artificial de escassez, que empurra o investidor a entrar no negócio imediatamente;
  4. solicitação de depósitos em contas pessoais ou de escritórios particulares, ao invés de abertura de conta individual em nome do investidor diretamente em uma corretora homologada.

Em suma, em matéria de ganhar dinheiro, não existe atalho. Quem tenta ser esperto acaba se dando mal. Como disse certa vez um delegado que conheci:

“O ‘Conto do Vigário’ é um golpe no qual não existe vítima, pois aquela que assim se identifica, por ter perdido dinheiro, buscava levar vantagem ilícita ou irreal acima da média. Logo, devia estar ciente e disposta a correr os riscos envolvidos.”

Porém, existem formas éticas, legais e sustentáveis de fazer o seu esforço render mais. Leva tempo, mas vale a pena. Falarei delas ao longo dos nossos próximos encontros.

Por hoje é só. Caso você tenha alguma questão ou dúvida relacionada a Finanças Pessoais, envie-a para redacao@plenonews.com.br, e eu terei o maior prazer em responder e tentar lhe ajudar.

Um forte abraço, sucesso, paz, amor e harmonia para você e sua família. Até semana que vem, se Deus quiser!

Anderson de Alcantara é profissional do mercado financeiro há 30 anos, atua como consultor financeiro na 3468 Finance e é professor titular do Ministério Videira – Educação Financeira à luz da Bíblia.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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