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Resumo da eleição que vem por aí: Curta, polarizada, fragmentada e sem favoritos

Os líderes nas intenções de voto estão isolados, a esquerda dividida, os evangélicos desunidos, os liberais trazem a mesma agenda. Apenas Alckmin buscou uma superaliança

André Mello - 07/08/2018 13h49

No sábado (4) e no domingo (5) os partidos realizaram suas convenções para confirmar 14 candidaturas à Presidência. Geraldo Alckmin terá mais de um palanque em vários estados e construiu uma supercoligação. Marina e Bolsonaro, líderes de intenção de voto nas pesquisas, ficaram isolados. Evangélicos participam de quatro candidaturas presidenciais e, sozinhos, não venceriam. Três candidatos liberais têm a mesma agenda. A esquerda se fragmentou. Ou seja, não há favoritos.

ESQUERDA DESUNIDA
O jornalista Sérgio Porto – o famoso Stanislaw Ponte Preta – declarava que a esquerda só se unia “na cadeia”. Dessa vez, nem com a detenção de seu nome mais popular na prisão de Curitiba, a esquerda conseguiu unir-se.

No campo da agenda política associada às políticas de esquerda reina a segmentação. PSTU, PSOL, PDT e PCdoB lançaram candidaturas independentes, em concorrência com o PT, em vários estados e nas campanhas majoritárias.

Ciro Gomes, do PDT, que esperava uma “frente ampla de esquerda” rebateu os esforços do PT para liderar o bloco com irritação. O PSB que estava sendo assediado por PT, PDT e PSDB optou por “jogar fora” o seu tempo de TV, desistindo de fazer qualquer coligação nas candidaturas à presidência. Na prática, o PSB fez um acordo com o PT, no Nordeste e com o PSDB, em São Paulo. Rachou o bloco.

COMBATE ABERTO
Como se esperava, Lula foi lançado candidato, mas o PT já está trabalhando para que Fernando Haddad (ex-prefeito de São Paulo) seja o candidato da sigla – em eventual “plano B”. Assim, quando o TSE vetar a candidatura de Lula com base na lei da ficha limpa, a coligação Fernando Haddad/Manuela D´Ávila (PT/PCdoB) teria como alvo específico o voto jovem e petista.

Evidentemente, ainda não é possível saber se Haddad conseguirá atrair os eleitores que até agora declararam voto em Lula. E não se imagina, muito menos, como os jovens internautas vão aderir à chapa PT/PCdoB. A decolagem da chapa Haddad-Manuela pode transformar as demais chapas de esquerda em mosqueteiros de um combate aberto. Vera Lúcia/Hertz Dias (ambos do PSTU) formam a chapa tradicional das bandeiras sindicais. Guilherme Boulos/Sônia Guajajara (ambos do PSOL) apresentam bandeiras ligadas à luta pela moradia e terras indígenas. E Ciro?

CHAPAS QUENTES DO TRABALHISMO
O PDT, com uma chapa “quente” (Ciro Gomes/Kátia Abreu), permanece isolado e irritado. Ambos ficaram conhecidos na política pelo seu estilo “pavio-curto” e já confirmaram a fama. Ciro acusou o golpe do PT na sua “frente de esquerda”, assegurando que uma eventual derrapagem de Haddad, tornará o seu nome inevitável. Mas prometeu cobrar caro a traição. Todavia, o atual isolamento do PDT, com descontentamento das bases eleitorais poderá custar muito mais.

Mais quente do que Ciro é a chapa João Goulart Filho/ Léo Alves (PPL). Filho de Jango, Goulart Filho defende a redução da dívida pública, o controle dos lucros das multinacionais e uma agenda nacionalista. O PPL é a versão partidária do MR-8, uma vertente de esquerda que deixou o PMDB. Além do filho de Jango, o partido tem em seus quadros Brizola Neto. O movimento trabalhista, assim, está dividido, entre PT, PDT e PPL.

Convenção do PRTB anunciou chapa Bolsonaro-Mourão Foto: Folhapress/Rafael Hupsel

EVANGÉLICOS FRAGMENTADOS
A fragmentação não é apenas um defeito da esquerda. A mesma divisão que impera na esquerda atinge, em cheio, o movimento evangélico brasileiro.

Há quatro candidatos à Presidência com orientação evangélica. Somados, dariam trabalho aos concorrentes. Isolados – com rachas internos e posições antagônicas no campo político – terão poucos recursos financeiros e pouco tempo de propaganda na TV.

Jair Bolsonaro (PSL), o líder de intenções de voto, conseguiu atrair para a sua aliança, apenas o PRTB, que tem vários militares na campanha. Bolsonaro terá ao seu lado o também militar e general Hamilton Mourão. Hoje, Bolsonaro já representa algo em torno de 20 milhões de eleitores potenciais. Poderia ter composto com bombeiro militar, Cabo Daciolo (Patriota) ou com José Maria Eyamel (DC), por exemplo. Isso aumentaria o universo do eleitorado evangélico, militar e conservador nas urnas.

JUNTOS CHEGARIAM LÁ ?
As propostas e programas são bem parecidas, na economia, nos costumes e na política; mas as divisões nas legendas tornaram a união difícil.

Um ramo da Assembleia de Deus, liderado por Adilson Barroso, lançou pelo partido Patriota o Cabo Daciolo. Daciolo, expulso do PSOL, por defender uma agenda evangélica e pró-família, lançará sua candidatura por um partido que já foi uma das opções de Bolsonaro.

Também será candidato, mais uma vez, José Maria Eymael – que foi presidenciável em 1998, 2006, 2010 e 2014. Eymael, da Democracia Cristã, terá como vice o pastor Helvio Costa, da Assembleia de Deus.

MARINA BUSCA O CENTRO
De outro ramo da mesma Assembleia, a ex-senadora evangélica, Marina Silva, que já foi do PT e do Partido Verde, alcançou e manteve a marca dos 20 milhões de votos nas duas vezes em que se candidatou. Com o isolamento do PSB e das alianças possíveis, escolheu como vice um membro do Partido Verde com trajetória muito parecida (Eduardo Jorge também foi do PT).

Marina tenta repetir a estratégia de 2014 e, ao mesmo tempo em que faz críticas ao PT, adotou um programa de partido que sugere a alternativa do Centro Político.

QUARENTA MILHÕES NÃO BASTAM
Juntos, os candidatos evangélicos representariam, pelo menos, 40 milhões de votos. Poderiam, associados ao voto conservador, militar e católico, largar para a corrida eleitoral de um patamar de 50 milhões de votos. Separados, lutarão com outros candidatos para chegar ao segundo turno. Todavia, mesmo com esse patamar impressionante, não ganhariam.

Em 2014, Dilma foi eleita com 55 milhões de votos. O Brasil tem, atualmente, 147 milhões de eleitores aptos a votar. Trinta e cinco milhões dos eleitores têm entre 45 e 59 anos; 31 milhões situam-se entre 25 e 34 anos; 30 milhões, entre 35 e 44 anos e 20 milhões, entre 18 e 24 anos. Isto é, há uma boa distribuição por faixa etária e uma ligeira vantagem para as mulheres. 52% do eleitorado é feminino. São Paulo, com 33 milhões de eleitores, é o maior colégio eleitoral do país. A região Sudeste tem 43% do eleitorado de todo o país. Portanto, mesmo que os evangélicos se unissem, não seriam suficientes para ganhar a eleição. Precisariam unir forças com outros campos políticos, em especial no Sudeste.

LIBERAIS EM TRIO, SÓ QUE NÃO
Poderiam, por hipótese, compor uma coligação com os candidatos evangélicos, por afinidades ideológicas, políticas e econômicas, os candidatos liberais João Amoêdo (NOVO), Henrique Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Podemos). Dias conseguiu atrair para sua composição de chapa o economista Paulo Rabello de Castro (PSC), além de PRP e PTC.

Meirelles e Amoêdo seguem isolados em seus partidos. Mas poderiam estar todos juntos?

QUASE BOLSONAROS
Poderiam, mas não podem. Três partidos: Podemos, PSC e PRP têm vários evangélicos em suas bases e, em 2014, o pastor Everaldo Pereira foi candidato à Presidência, pelo PSC, inaugurando uma agenda que associava liberalismo econômico ao conservadorismo dos costumes.

Como aconteceu com o Patriota (de Daciolo), o PSC foi cogitado como uma das possíveis alianças ou legendas, para alavancar a campanha de Bolsonaro. Porém, divergências internas tornaram a plataforma comum inviável.

Outro liberal, cujas propostas são bem próximas dos políticos evangélicos nesta eleição, Amôedo defende até mesmo a revisão do Estatuto do Desarmamento. Sua candidatura pretende dar espaço aos chamados outsiders, mas não há muito lugar para políticos não profissionais no sistema eleitoral brasileiro. Afinal, os construtores desse sistema foram os próprios parlamentares.

MEIRELLES BUSCOU A BÊNÇÃO
Entre os liberais e outsiders, aproximou-se do campo evangélico, visitando várias igrejas, o candidato Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda de Temer e Lula. Além da Assembleia, Meirelles chegou a visitar a reunião da Comissão Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil. O ex-ministro tentou associar-se ao voto evangélico, mas terminou por construir uma chapa de Centro-Sul, do MDB, com Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul.

Em um mundo ideal, Amoêdo, Meirelles e Dias poderiam militar no mesmo partido, mas no Brasil atual, seguem separados. A casa dividida prosperará?

O CENTRÃO ENTRA NO JOGO
O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin entende de união. Alckmin compôs um bloco suprapartidário com o PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade. A senadora Ana Amélia (PP-RS) faria, assim, a ponte entre Alckmin e o setor ruralista. Sua estratégia de campanha ficou clara no lançamento, com críticas ao PT e ao PSL, atingindo tanto Lula quanto Bolsonaro.

Ao aliar-se ao Centrão (bloco de partidos que compõem o meio de campo do Congresso Nacional), posicionando-se, também, politicamente no centro, Alckmin decidiu arriscar uma estratégia de atração do centro político, situando-se entre a esquerda e a direita, entre os liberais e os progressistas.

DÉJÀ VU
Alckmin corre o risco, muito alto, de ficar entre os dois extremos de uma eleição cada vez mais polarizada – terminando por ter que escolher um dos lados no segundo turno. Como lembrança, em 2014, Marina também ficou no centro, tendo que optar, afinal, entre Dilma e Aécio. Vale, também, lembrar que o centrista Geraldo Alckmin, em 2006, terminou o primeiro turno com 40 milhões de votos, amargando uma derrota para Lula, no segundo turno com um número menor de votos.

Atualmente, apenas 10% dos eleitores brasileiros declaram intenção de voto espontânea no candidato do PSDB (14 milhões de votos). Em São Paulo, Bolsonaro e Alckmin estão empatados com 20% (cada um com seis milhões de votos). Alckim terá que crescer no Nordeste e/ou no Sul para poder chegar ao segundo turno…

CALENDÁRIO
Em 17 de setembro o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deverá julgar os pedidos de impugnação das candidaturas. Nesse momento, a consolidação da retirada de Lula da corrida eleitoral mexerá com todos os demais candidatos. Até lá, as pesquisas de intenção de votos, poderão obrigar alguns candidatos a desistirem de seus pleitos.

No dia 16 de agosto, passa a ser permitida a realização de propaganda eleitoral, com comícios, carreatas, distribuição de material gráfico e propaganda na Internet (que não deve ser paga). A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão terá início em 31 de agosto (37 dias antes das eleições) e terminará no dia 4 de outubro.

A eleição será em 7 de outubro, em primeiro turno, e no dia 28 de outubro, em segundo turno. Logo, o mês de setembro será o período definitivo para que as candidaturas se consolidem. Será uma campanha mais curta e, com certeza, mais agressiva. Altamente polarizada. Sem favoritos ao título.

Para mais informações acesse o site da Justiça Eleitoral.

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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