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O Êxodo Brasileiro: empresários, cérebros e jogadores

Não são apenas os jovens que desejam ir embora (matéria anterior nesta coluna). A Receita Federal informou que 21.236 brasileiros preencheram a declaração de saída em definitivo. Além dos jovens, o país perde empresários, mestres e doutores. Não só jogadores de futebol. O Êxodo Brasileiro cresceu 115% - entre 2013 e 2017. Vão voltar?

André Mello - 29/06/2018 18h39

JOVENS, RICOS E PÓS-GRADUADOS – Na coluna anterior, repercutimos e analisamos o desânimo que atravessa o futuro do Brasil. 70 milhões de jovens declararam ao Datafolha que desejam sair do país. Não são apenas jovens jogadores, como Gabriel Jesus, Neymar e quase toda a seleção brasileira. O Mundo atrai muitos dos nossos jovens, entre 16 e 24 anos. E os maduros também. Envelhecemos mais rápido. Contaminados pela falta de perspectivas, pela longa recessão, pelo desemprego renitente (que atinge 13 milhões) e pela crise política, os jovens são também acompanhados pela nata de nossa gente. Corremos o risco de ficarmos sem futuro e sem renda. Jovens, ricos e pós-graduados são os que atravessam as nossas fronteiras em busca de uma nova vida.

BYE, BYE, BRASIL – Empresários, pessoas com mestrado e doutorado, cérebros e talentos, compõem 80% dos brasileiros que declararam ao Imposto de Renda saída definitiva do Brasil. O número cresceu 115% entre 2013 (quando começaram os protestos contra a corrupção) e 2017 (quando atingimos o clímax da crise política). Ao todo, a Receita Federal informou que 21.236 declarantes informaram saída definitiva da base de contribuintes – gente que pagava imposto e deixou de pagar. Perdemos renda, mentes e empreendedores com a mesma rapidez com que brotam “fake news”.

VIOLÊNCIA, INSTABILIDADE, RECESSÃO – As consultorias de expatriação e os headhunters (caçadores de talentos) já enxergaram o filão, assim como as empresas de intercâmbio e os programas de imigração. Se os últimos procuram atrair os nossos melhores estudantes – adolescentes e jovens – os primeiros colhem pessoas maduras. Caçam os 56% dos profissionais com alto rendimento e boa formação que desejam partir.

O PAÍS DO PASSADO – Os brasileiros entre 16 e 25 anos sonham com o futuro, mas os cérebros e executivos atraídos pelas empresas de caça-talentos são o presente do país – têm entre 30 e 49 anos – e os números assustam. A violência, que vitimou 62 mil pessoas em nosso país no ano 2017 é o principal fator para cérebros e empreendedores que partem. Nesse retrato de um país que fica no passado, o relato das pessoas com disposição de pagar até 12 mil dólares para deixar o Brasil, legalmente, é unânime: “não adianta ganhar dinheiro, se não há segurança para viver”.

FUGA DE CÉREBROS E EMPREENDEDORES – O apetite pelos qualificados fica claro quando percebe-se que o custo para a imigração legalizada, para os portadores de diplomas de pós-graduação, cai para 3 mil dólares. Em alguns casos, as Universidades que os contratam e as empresas que “caçam talentos” cobrem todos os custos – ajudando até mesmo na residência e na obtenção de passaportes. Com dupla cidadania há, inclusive, a vantagem de poder trabalhar ou abrir uma empresa, sem medo da fiscalização. Mas já existem brasileiros pagando de 100 mil a 800 mil dólares para conseguir abrir negócios permanentes no exterior. A rapidez do prazo, nestes casos, mostra os pesos e as medidas: entre a apresentação do plano de negócios em um consulado e a liberação do visto, o processo pode demorar de um a dois meses.

50 CRIANÇAS NOS ABRIGOS – O drama dos filhos de refugiados brasileiros que foram separados de seus pais nos EUA serve de termômetro nesta crise. Ao lado das imagens que rodaram o mundo, com crianças diversas crianças, de várias nacionalidades, desassistidas – sob a sombra de muitos pais e mães em processo de expulsão – percebe-se uma inversão no número de migrantes sem qualificação, oriundos do Brasil. Desde 2015, a JBL (uma das consultorias que mais promove a expatriação legal de brasileiros) acompanha o movimento de êxodo nacional.

NÃO É POR VINTE CENTAVOS – Antes de 2013, 20% dos brasileiros que migravam não tinha curso superior, hoje são 6%. Ainda assim, pensar que 50 crianças e suas famílias correram esse risco chama a atenção. Há tolerância zero para os “não-qualificados”, mas há um apetite voraz pelos imigrantes brasileiros, com formação e renda. O Brasil vai ficar como “Jerusalém” no tempo de Esdras e Neemias? Ou será comparado ao “Egito”, um passado amargo, para aqueles que sonham com a Terra Prometida, em outro lugar?

DO FACE AO INSTAGRAM – Muitas pessoas, publicamente, ou “in box” reagiram à matéria, anteriormente publicada nesta coluna. Sintetizamos o retorno recebido: 58 pessoas saíram do país, com tristeza, desencanto e violência; 2 pessoas disseram que pretendem retornar um dia. O Engenheiro Gustavo Meyer Pinto Ribeiro, por exemplo, faz um apelo aos que ficam: “estava almoçando e vi o Ivan Valente e sua esposa numa mesa. Fui até lá, cumprimentei-o e disse da minha tristeza pelo Brasil, mais uma vez, passar por um retrocesso democrático. Disse a ele que pela primeira vez na minha vida eu considerava a ideia de ir embora. Ele me disse: Não vá. Já passamos por coisa bem pior na ditadura. Vamos lutar (…) Acho interessante que algumas pessoas que foram às ruas vestidas de CBF para apoiar a entrega do poder à quadrilha de Michel Temer agora emigrem para Portugal, país governado por uma coalizão de Esquerda. O Brasil de Esquerda não servia, mas o Portugal de Esquerda sim”.

PODEM IR – Luiz Carlos Prates, jornalista, publicou em uma coluna cheia de irritação, adjetivos aos “borra-botas”, fujões e inseguros. A coluna pode ser lida no Jornal “Notícias do Dia”, de Florianópolis/SC (em 29/06/2018): “Que vão. Aqui não farão falta. Que vão logo”, diz ele. Porém, longe da condenação moral, há quem compare os empresários e pós-graduados com os jogadores de futebol – são nossa mão-de-obra qualificada e expatriada. Como o jovem talento Vinicius Júnior, do Flamengo, que se despediu antes de brilhar aqui. Vão brilhar em outros gramados, mas a culpa não é só da camisa da CBF.

Você gostaria de nos contar, na sua visão, aquilo que poderia impedir esse Êxodo Brasileiro?

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.

 

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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