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Combustíveis: dez dias de fúria e muita fumaça

A gasolina voltou aos postos, mas não baixou. O diesel ainda não chegou ao preço prometido. A tabela de fretes e os acordos do Governo Temer com os caminhoneiros foi parar na justiça. A economia perdeu o gás. Foram dez dias de fúria, por muito pouco.

André Mello - 15/06/2018 13h41

A maior crise de abastecimento foi provocada por “dez dias de fúria”. Caminhoneiros autônomos e transportadoras somaram as forças para colocar a sociedade na parede. Receberam, especialmente no sul do país, a adesão de populares e agricultores indignados com a corrupção e as dívidas. O agronegócio, endividado e sem saída, adicionou à sua ruína o descarte de alimentos estragados e litros de leite derramado.

“Não adianta chorar depois do leite derramado” – já diziam os antigos. E foi exatamente assim. Embora 70% da população declare ser favorável ao controle do preço de combustíveis e gás, o governo tomou o partido da Petrobrás e decidiu repassar o prejuízo que a empresa teria, cortando de outros setores do país. A conta salgada pesou sobre o superávit do governo, sobre as desonerações e sobre os exportadores. 87% dos entrevistados pelo Datafolha aprovaram o movimento e 56% sugeriam que ela deveria prosseguir – e um olhar atento nas pesquisas e nas opiniões percebem que os apoiadores da greve desejavam a queda do governo.

A alta dos combustíveis deve por gasolina no fogo da inflação. Também deve ampliar a impopularidade do presidente Temer e de seu grupo base. 72% das pessoas tem pessimismo em relação à economia. E a percepção dos investidores e dos empresários não é diferente do público. A corrida para o dólar, como nos ensinam as crises passadas, é mais do que especulação contra o Real. Os investidores (incluindo os brasileiros) estão tentando se proteger.

Como em 1989, a incerteza eleitoral desaquece a economia e turbina a especulação. Sem dinheiro no bolso, com medo do futuro e com 13 milhões de desempregados, o público esqueceu as bandeirinhas e a festa do futebol. Vai ficar torcendo em casa, se o time chegar a algum lugar. Como numa prorrogação que espera apenas a hora dos pênaltis.

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.

 

* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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