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Há um medo dentro de mim

Quem na vida não tem um espinho na carne? Seja qual for, ele vai incomodar, não o tempo todo, mas de súbito, sem aviso prévio, se apoderará de você

Yvelise de Oliveira - 19/06/2018 09h07

Há um medo dentro de mim, bem fundo, que resiste, persiste em me incomodar.

Me pergunto: “Que medo é esse?”.

Procuro, vasculho, limpo o entulho que sempre teima em acumular-se. Me dou conta de que sei de onde ele veio, mas preciso de muita determinação para tirá-lo de mim, fazê-lo sumir, desaparecer.

Mas agora, neste momento em que vivo, eu sei que há um medo dentro de mim. Ele estampou-se em minha alma como uma marca bem definida, sem contornos, e eu não consigo saber onde ele está, o que o provoca e o torna tão real na minha vida. Vem com uma pontada aguda de dor que vem e vai; não consigo determinar de onde ele vem assim, sorrateiro, sem aviso, me incomodar.

Deixa um gosto amargo na boca e um arrepio na pele que fica gelada e com um suor frio. Na verdade, ocupa pouco espaço, mas incomoda como um espinho pequeno e bem cravado dentro de mim.

Quem na vida não tem um espinho na carne? Seja qual for, ele vai incomodar, não o tempo todo, mas de súbito, sem aviso prévio, se apoderará de você.

Fico aturdida, me sinto assim desamparada, abandonada e busco uma mão que me segure, que não me deixe só nesses momentos de conflito porque há um medo dentro de mim, e conviver com esse fato é exasperante e fico completamente sem ação.

Faço coisas rotineiras, coisas que já sei, me guio pelo instinto, busco, rebusco, quero me livrar dessa pontada aguda, dessa dor incômoda das lembranças que vêm com ela. Somente espero, não me desespero. Controle, é preciso controle para ninguém perceber.

Vai passar…

Como veio, ele vai, para o secreto da alma onde moram nossos momentos vividos que deixam marcas para toda a vida.

É a vida.

Todos temos, mas não dizemos, confusos temores que nos invadem, pequenas lembranças que nos são queridas, outras que, definitivamente, não queremos ter. Mas não somos assim tão donos de nós mesmos. Somos todos, mesmo os mais controlados, sujeitos a momentos que gostaríamos de deletar de nossas vidas.

Mas é a vida… como ela é e não como a gente quer que ela seja.

Assim, constato o fato de que não posso controlar minha vida, no momento em que ela me controla, e eu fico à sua mercê.

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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