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André Mello - 10/05/2018 11h28

Twitter Joaquim Barbosa Foto: Reprodução

UM TRUMP TROPICAL?
Ao melhor estilo Donald Trump, pelo twitter, Joaquim Barbosa publicou às 6h da manhã, do dia 8 de maio de 2018: “Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a Presidente da República. Decisão estritamente pessoal”.

Considerando que a última postagem no twitter foi de 7 de abril, ou seja, no mês anterior, verifica-se que esse não era um canal muito usado por Joaquim.

Ao contrário de Trump, Barbosa procurou em seus movimentos políticos anteriores, dar a visão de que era um outsider, mas que não era autoritário ou sem “jogo político”, como insinuavam seus adversários.

FAMÍLIA, FAMÍLIA
Nascido em Paracatu, Minas Gerais, em 7 de outubro de 1954, Joaquim Benedito Barbosa Gomes foi arrimo de família, ministro do Supremo Tribunal Federal de 2003 a 2014, presidente do tribunal de 2012 a 2014.

Barbosa é um ex-faxineiro que estudou, com todas dificuldades, formando-se em Direito pela UnB. Foi Procurador da República, concursado. Estudou na Europa e nos EUA. Foi indicado para o STF em 2003 e destacou-se como presidente do STF na condenação de José Dirceu e do PT, depois da investigações do Mensalão.

Afastou-se do tribunal por motivos de saúde, depois de uma cirurgia na coluna. Na época do seu afastamento, os embates políticos com Gilmar Mendes tornaram os bastidores do STF famosos.

A atual desistência da candidatura a presidente da República foi anunciada como resultante de pressões familiares.

O jornalista Ricardo Boechat já havia sinalizado com essa possibilidade, quando Barbosa filiou-se ao PSB, em 7 de abril de 2018. Na ocasião, Boechat relatou que havia questões familiares e partidárias no caminho do candidato.

Em síntese: o Joaquim tinha problemas familiares, mas o ministro Barbosa, problemas maiores, partidários, no PSB.

CHEIRO DE QUEIMADO NO SUL
Vem, principalmente, de São Paulo e de Santa Catarina, o cheiro de queimado que torna a desistência da candidatura de Joaquim Barbosa menos familiar, no brutal jogo político brasileiro.

Em Santa Catarina, o PSB caminhará em 2018 ao lado do PSD e, com certeza, não se alinhava à esquerda, manifestando claras desconfianças às inclinações políticas de Barbosa.

O atual governador de São Paulo, Márcio França (PSB), foi o grande vitorioso com a desistência do candidato. França, candidatíssimo à cadeira que era de seu padrinho político, Geraldo Alckmin, sempre defendeu publicamente a candidatura do tucano e tecia dúvidas à viabilidade da candidatura do PSB.

Ele foi rápido ao comentar a desistência de Barbosa e considerou a saída “previsível”, pois “a candidatura é muita pressão, muda totalmente a sua vida e da sua família”.

Indicando o caminho que defende para o partido, o governador sugeriu, em entrevista à Folha de S.Paulo, que a eleição de 2018 “é para os profissionais”.

Sudeste e Sul pressionam por Alckmin.

COSTURA DIFÍCIL
França e seu grupo estão agindo rápido. Mais rápido que o presidente da sigla, Carlos Siqueira, que vivia comparando a oposição atual do PSB à candidatura de Joaquim Barbosa, com a candidatura de Eduardo Campos à Presidência, em 2014. Comparação impossível e pouco realista.

Siqueira sinalizou, após a desistência, com uma candidatura ao senado, ou uma oferta de vice na chapa do PSB, futuramente. Mas do jeito que está não dá pra saber se Barbosa vai ficar.

CLIMA QUENTE NO NORTE
O ex-ministro da defesa Aldo Rebelo, ex-PCB, ex-PSB, foi também contrário à candidatura de Joaquim Barbosa. Quando o ex-ministro do STF entrou no partido, Rebelo saiu atirando, terminando por filiar-se ao Solidariedade. Com a saída de Aldo Rebelo, a ala do nordeste do PSB, sentindo-se duplamente traída, tornou-se o principal obstáculo à aproximação com o PSDB de Alckmin.

Em resumo: os polos norte e sul do PSB estão em rota de colisão. O que só aumenta as forças de atração de outras candidaturas sobre o partido. Casa dividida não prospera, não elege. O estrago foi grande.

OS ALCKIMISTAS ESTÃO CHEGANDO
O diretor-geral do Instituto DataFolha, Mauro Paulino, calcula que, dificilmente, Alckmin vai continuar com os atuais 5% de intenção de votos. PT, PSDB e MDB têm máquinas políticas muito fortes e vão fazer diferença a partir de agosto, declarou Paulino.

Mas desde já, os tucanos se articulam, aceleradamente. Geraldo Alckmin, até, telefonou para Temer e vem ensaiando a unificação dos discursos e das candidaturas à direita. Uma chapa conjunta do PSDB com o MDB pode até jogar a candidatura de Rodrigo Maia para escanteio. Porém, não é fácil atrair votos para uma dupla como Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles.

FHC SAIU DO BANCO
Talvez por saber que a empreitada é difícil, Fernando Henrique Cardoso saiu do banco de reservas do PSDB para lançar-se na campanha de Geraldo Alckmin. O presidente de honra do PSDB, de fato, ajudou a brecar Dória, reagiu ao baque das pesquisas e ao desalento, após o inquérito de Aécio Neves, e reaglutinou o partido.

FHC lançou, recentemente, um novo livro, provocativo: Crise e Reinvenção da Política no Brasil. E desandou a dar entrevistas para todas as mídias. Explicou que escreveu a sua última obra, baseada na atual confusão política do país, para reformar o ambiente partidário e reforçar o alicerce da democracia. O argumento central de Fernando Henrique é o de que a sociedade brasileira não pode adotar soluções radicais, mas deve seguir o caminho da razão, como na época do Plano Real. Suas críticas, no Canal Livre, da TV Bandeirantes, tinham como alvo principal Joaquim Barbosa: “um juiz, acostumado a mandar, sem o traquejo político”.

Sim, Os tucanos sabiam que Barbosa tirava votos da camada de eleitores do PSDB – urbanos, escolarizados, avessos à esquerda, contra a corrupção, do sul e sudeste… Podem festejar sua saída. Mas será que ganham?

QUEM GANHA, QUEM PERDE
Os analistas estão divididos em dois blocos. Um grupo reconhece que a saída de Joaquim Barbosa pode favorecer Geraldo Alckmin e, se estiverem certos, a estratégia de soltar as primeiras flechas contra o ex-candidato do PSB pode ter dado certo (tanto nos bastidores, como em público).

O segundo grupo de analistas, ouvidos na InfoExame, sugerem que Marina Silva e Jair Bolsonaro vão herdar os votos de Barbosa.

Melancolicamente, Joaquim Barbosa sai de cena declarando que teme o crescimento de Bolsonaro e a continuação da Agenda de Temer, mas nem ele pode determinar para onde vão seus 10% do eleitorado.

O RISCO TEMER E O PRIMEIRO TURNO
Todos os analistas são unânimes: o governo Temer é o mais rejeitado de todas as séries históricas de pesquisas e a associação com sua agenda, ou figura, é a morte política.

Mas ainda há um detalhe: com um percentual de 20% de votos nulos, o candidato que alcançar 40% das intenções pode ganhar no primeiro turno. Pois, pode-se, com abstenções e anulações, aumentar o percentual de votos válidos para o primeiro colocado. Corre-se, realmente, o risco de muitos preferirem viajar no dia eleição. E aí, ganha quem estiver na frente.

André Mello é jornalista, tradutor, teólogo e cientista da religião.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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