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Crescendo juntas

Eu sei que fiz o melhor que pude. As mães quase sempre tentam fazer o melhor

Yvelise de Oliveira - 08/05/2018 09h21

Entramos na vida uma da outra demasiadamente cedo. Aos 17 anos, olhei o minúsculo rostinho, o corpinho frágil, absolutamente perfeito até os últimos detalhes, e senti-me como quem havia feito uma obra de arte: minha filha.

De dentro de mim saíra um ser humano completo, e era “minha”. Eu a havia feito.

Apesar da insegurança de não conhecer exatamente a extensão do que era ser mãe, foi o instinto mais poderoso do mundo que me disse o que deveria ser feito. Segurei, com firmeza, o pequeno embrulho – de mantas e cobertas –, onde, placidamente, dormia o meu bebê, minha filha. Olhei a carinha enrugada e pensei em como seríamos amigas, dormiríamos juntas de mãos dadas. Ela e eu, juntas, iríamos aprender tudo e, decerto, acharíamos todas as respostas.

Éramos as duas tão crianças…

Ser mãe em qualquer idade pode ser uma experiência muito rica, mas também amedrontadora, ainda mais quando não se pode ter ainda a exata dimensão do que é a responsabilidade de formar um adulto.

Mas a juventude sempre traz com ela uma pontinha de irresponsabilidade, o que me permitiu saborear o que, para mim, parecia haver acontecido só comigo. Como se a cada minuto esse milagre do nascimento não estivesse acontecendo com milhares de mulheres em todo o mundo.

Encarei a vida como se ela fosse a coisa mais fácil de ser vivida. Senti-me muito importante em plena adolescência, ainda não superada. Tinha meu marido, minha casa e meu bebê gorducho e saudável, com olhinhos brilhantes. Era minha, parte de mim. Pensei: “não irei jamais falhar para com ela”.

Éramos as duas tão crianças…

A chegada em casa com um bebê recém-nascido não foi exatamente o que eu esperava. Minha autoconfiança ficou abalada; achei que nunca iria aprender a fazer tudo que minha mãe, companheira e amiga, ensinava-me. Limpa, lava, amamenta, pouco leite, leite fraco, lava, limpa; noites em claro, o bebê com cólicas, chorando, e eu chorando junto.

A casa toda era uma confusão, um mundo onde todos nós girávamos em torno do que fazer com a minúscula e dependente criaturinha.

Gente, primeiro filho é uma experiência difícil até para quem já é adulto, imagine para uma adolescente!

Mas, finalmente, achamos os nossos espaços, e a minha filha e eu começamos a crescer juntas.

Aprendemos que nada termina jamais. Que a vida possui uma dinâmica muito especial, e onde quer que alguém plante raízes brotadas do seu mais puro eu verdadeiro ali construirá um lar.

Entramos muito cedo uma na vida da outra. Mas nunca lamentei o fato; ao contrário, com minha juventude pude aprender, e entender melhor a juventude dela.

Éramos duas crianças crescendo juntas…

Eu sei que fiz o melhor que pude. As mães quase sempre tentam fazer o melhor. Já faz muito tempo que vivi tudo isso, mas parece sempre para mim que o tempo volta rápido junto com minhas
recordações.

Gosto de minhas lembranças, porque todas elas são a minha grande fortuna: minhas memórias. Posso, de alguma forma, revivê-las e saboreá-las sempre que quiser. É um privilégio recostar no sofá e divagar, lembrando-me, com amor e ternura, de como foi criar a minha filha. Sorrio e choro. O tempo para, sou eu de novo a menininha com o bebê no colo, sou eu, de novo, a jovem mulher com a menininha pela mão. Sou eu, de novo, a mulher adulta com um bebê que é a minha continuidade, minha neta no meu colo.


A vida é uma sequência de momentos: alguns a gente estoca para sonhar, alguns é bem melhor deixar guardados…

Yvelise de Oliveira é Presidente do Grupo MK de Comunicação; ela costuma escrever crônicas sobre as suas experiências e percepções a cerca da vida. Há alguns anos lançou o livro Janelas da Memória, um compilado de seu material. Atualmente está em processo de finalização de uma nova obra, Suspiros da Alma.
* Este texto reflete a opinião do autor e não, necessariamente, a do Pleno.News.
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