Como lidar com quem tem opiniões políticas diferentes das minhas?
Universitário pergunta como lidar com filosofias muito contrárias às suas. Mestre em História responde
Como Lidar - 03/05/2018 10h18
“Olá, me chamo Márcio, tenho 23 anos e estou me formando em História em uma instituição pública. Apesar da orientação das faculdades, em sua grande maioria, serem de esquerda, tenho minha cabeça voltada para uma linha de pensamento mais conservadora, de direita. Mas confesso que tenho medo de expor minhas ideias e ser perseguido. Como devo agir nessa situação? Por que é muito difícil falar uma opinião que não condiz com a maioria? Como explicar essa onda de intolerância e ódio por ter uma linha de pensamento diferente do outro? Como posso lidar com pessoas que têm opiniões políticas diferentes da minha?”.
Márcio Nogueira, Brasília, Distrito Federal
Resposta:
É, verdade, Márcio, na atualidade, é muito difícil expôr opiniões sem ser ofendido de alguma forma. Chegamos a um momento de intolerância extrema, principalmente nas redes sociais, potencializada por recorrentes discursos de ódio contra o “diferente”: basta discordar, para sofrer verdadeiros linchamentos virtuais. Nesse contexto em que a racionalidade é deixada de lado para dar lugar à força – remontando períodos tenebrosos da História da humanidade – é comum fechar-se em “bolhas” de opinião, onde os indivíduos falam e discursam apenas para seus partidários ou seguidores, aumentando a sensação de isolamento e rivalidade.
O discurso autoritário ganha espaço por diferentes fatores, sendo um deles o advento das redes sociais e seu mau uso. Se antes era necessário que uma figura pública (intelectual, político, artista, acadêmico ou cientista) realizasse um discurso ou tomasse partido de algum fato com o intuito de influenciar a opinião pública, hoje as redes sociais possibilitaram que pessoas comuns também emitam opiniões de forma clara e direta, dando origem aos “digital influencers”, em diferentes escalas.
Se de um lado foi quebrado o monopólio da opinião, processo importante em sociedades que prezam pela liberdade de pensamento e expressão, por outro o senso comum tem dominado os debates virtuais, possibilitando conclusões equivocadas que beiram ao fake news; pois, pela credibilidade que alguns desses influenciadores atingem, mentiras e calúnias podem facilmente ser vendidas como verdades absolutas.
Mas não tenha medo de dizer o que pensa. O direito ao contraditório faz parte do processo democrático, sendo garantido pela Constituição o direito à livre manifestação, expressão e opinião, não devendo de forma alguma sofrer censura, a não ser em situações muito específicas previstas em lei. Uma sociedade que quer alcançar o progresso e o desenvolvimento, como é o caso do Brasil, deve aceitar e garantir tais liberdades fundamentais.
Situações chatas e constrangedoras por ter um pensamento diferente podem acontecer em inúmeros casos. Infelizmente já passei por coisas assim, principalmente nas eleições de 2014, quando me deparei com indivíduos que me atacavam pessoalmente, de maneira ofensiva, em vez de debater ideias e propostas comigo. Isso pelo simples fato de apoiar candidaturas e plataformas políticas diferentes.
Mas saiba que também existem muitas pessoas que pensam diferente, porém discordam com respeito. Tenho amigos e colegas do círculo acadêmico que vão desde o conservadorismo até o marxismo. Dialogo, debato, mas sempre dentro dos limites da educação e cordialidade. É como diz a frase atribuída a Voltaire: “Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la”. É um exercício democrático e de civilidade. Não podemos dar lugar à barbárie.
Boa sorte pra você!
Guilherme Galvão Lopes é bacharel e mestre em História pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. |
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